Recuperação dos comportamentos adictivos através da
espiritualidade (poder Superior, não religioso, sem dogmas e ou
divindades). Se as suas próprias atitudes e comportamentos disfuncionais
não mudam; na realidade nada muda; contudo, algumas pessoas rejeitam qualquer
tipo de ajuda e apoio exterior quando por exemplo essa ajuda pode ser a uma
forma de manifestação de um poder Superior, não religioso sem dogmas e
divindades, nas suas vidas.
Quando perdemos o controlo dos nossos actos; podemos
adquirir alguma consciência através da partilha e “feedback” das
outras pessoas. Para um adicto, pode soar a um risco porque sabe que está a
agir de forma errada, e isso pode significar ouvir aquilo que não quer ouvir.
As vezes, quando falamos com alguém sobre algo do foro intimo parece que
acabamos por conseguir ouvir aquilo que dizemos num tipo de frequência
diferente. Estamos em sintonia com o outro, em vez de estar, exclusivamente, em
sintonia connosco mesmo.
Na recuperação da adicção o adicto contempla e deseja mudar, em direcção ao
conhecimento, à auto-realização, à necessidade de pertencer e à segurança, à
aceitação, à rendição e à paz de espirito; essencial ao discernimento e ao
perdão, à honestidade e à confiança nas relações com as outras pessoas, procura
“modelos” saudáveis e referências espirituais nos outros e num poder Superior,
não religioso, sem dogmas e divindades.
Acredito que o ser humano tem uma predisposição física no cérebro (neocortex)
que o impele a acreditar em algo Superior. Já os nossos antepassados que
habitavam nas cavernas e se vestiam de peles de animais deixaram um legado de
manifestações de adoração a algo superior; deus do fogo, deus do trovão; deus
da chuva, deus do sol para enumerar somente alguns.
Será que quando o ser humano confrontado com doenças (ex. adicção), crises,
tragédias, traumas despoleta algo dentro de si (adquire a consciência da sua
vulnerabilidade perante a adversidade e busca a fé num poder Superior)
provavelmente “adormecido”, de forma a manter a espécie (mecanismo de
sobrevivência do gene)?
Faz lembrar a mãe que perde a filha à nascença (experiência
traumática), num dia, no dia seguinte vai à igreja, acompanhada da família,
buscar consolo, apoio, perdão (sobrevivência).
Em recuperação de comportamentos adictivos, os indivíduos
são seres espirituais a aprender a ser humanos ou seres humanos a aprender ser
espirituais? Na minha perspectiva, a ciência e a espiritualidade - de
“mãos dadas”; podem contribuir significativamente para a recuperação de
milhares de pessoas, incluindo as famílias e as crianças, afectados pela
adicção; seja às substâncias psicoactivas lícitas, incluindo o álcool, e as
ilícitas, o jogo, o sexo, o distúrbio alimentar, as compras (shopaholics) e o furto (shoplifting).
O tema da recuperação da adicção e espiritualidade é algo
que me tem fascinado. Mulheres e homens acabam dependentes (adicção) , sem
o desejo consciente, quando recorrem a um preenchimento e satisfação física, emocional
e de algo transcendental (prazer, pertencer, segurança e recompensa) mais uma
vez, seja através de substâncias (drogas lícitas e ou ilícitas, incluindo o
álcool) e/ou comportamentos - jogo compulsivo, comida, relações disfuncionais e
ao sexo, trabalho compulsivo, compras. Ainda não conheci ninguém que tivesse o
desejo honesto de ficar dependente – agarrado á “teia” da adicção. Após um
período de tempo de adicção activa que varia de indivíduo para indivíduo, as
pessoas acabam por identificar um vazio espiritual – uma dormência emocional,
que não pode ser preenchido com coisas materiais , lugares e ou pessoas. Então,
o que é que o adicto pode fazer?
Através da minha experiência no acompanhamento de pessoas
que sofrem de comportamentos adictivos identificamos a ambivalência entre a
mudança de comportamentos disfuncionais e os comportamentos saudáveis.
Procura-se quebrar o circulo (lógica adictiva) da insanidade e da impotência –
sofrimento puro. Isto é, o adicto deseja, honestamente mudar, mas a busca do
prazer imediato e gratificação (obsessão e a compulsividade) mantêm-no agarrado
á “teia”, através de sentimentos de angustia, o desanimo e a frustração (raiva
e ressentimento), vergonha (tóxica) e a culpa que o remete ao isolamento, à
negação e à desonestidade – “vidas duplas". Destaco também a total
descrença (falta de fé e de esperança) em valores espirituais
sejam religiosos ou não, independentemente dos dogmas e/ou das
divindades. São muito raros os casos de adictos, no activo, que mantêm uma
relação funcional com um Poder superior. Mantêm sim, uma “linha direta
- telefónica", de uma via só, onde exigem mudanças nas suas vidas de
algo que não é realista; aparecimento de milagres ou zelam pela sorte e
amaldiçoam o azar. O centro das suas atenções e necessidades está direcionado
para valores (crenças disfuncionais) extremamente egoístas e egocêntricos, características
do doença.
Recuperar da adicção não é ter mais “votos” nem terminar em
primeiro lugar (pódio) ou com vinte valores. Não se mede pelo tempo em
recuperação. Recuperar, não é um acontecimento isolado, é um processo orgânico
e dinâmico para a vida. Por isso, podemos afirmar em relação aos
comportamentos adictivos “Recuperar é que está a dar.”
“A consciência é a presença de Deus no homem” (Vítor
Hugo).
1 comentário:
Sou um adicto em recuperação, e acho essencial a mudança de atitudes e comportamentos na vida de um adicto, esse é o maior compromisso que tenho com minha vida apesar de ser difícil estou me saindo bem,devagar, mas estou indo
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