sábado, novembro 02, 2013

Paradoxo


"Paradoxo em recuperação.
Rendemo-nos para vencer.
Perdoamos para ser perdoados.
Para manter o que temos, entregamos, em vez de controlar.
A força advém da fraqueza.
Enfrentamos a dor para ficar mais resilientes.
A luz advém da escuridão.
A independência advém da dependência.
Vivemos, o mais intensamente possível, um dia de cada vez, sabendo que um dia iremos morrer.” (tradução - autor anónimo)

Comentário: Apesar da complexidade da adicção (e do ser humano), hoje sabemos que a adicção é uma doença e podemos afirmar que existe esperança no tratamento e na recuperação.
O que é que significa a palavra Paradoxo? Segundo o dicionário da língua portuguesa é:
“Opinião contrária à comum.” 

Na vida, aprendemos através da dor, que aquilo que pensamos estar certo, pode mais tarde estar errado. Perante o perigo e o risco, associado aos comportamentos adictivos, desenvolvemos um sentimento de impunidade e invencibilidade que nos embebeda, extremamente apelativo, arriscado, intenso e sedutor; “É perigoso…mas vou controlar a situação. A vida são dois dias e um é para acordar.” Na adicção activa, quando julgamos que estamos a controlar, depois em retrospectiva, aprendemos com os erros, e impotentes, concluímos que afinal a realidade é bem diferente. 
   
Segundo o dicionário de Psicologia, de Roland Doron e Françoise Parot, paradoxo “é uma proposição ao mesmo tempo verdadeira e falsa, que acarreta deduções contraditórias, entre as quais a razão oscila interminavelmente; dilema, círculo vicioso. “

Mais uma vez, tal como acontece na vida, vivemos entre duas linhas distintas mas que estão interligadas entre si, a ilusão e a realidade. A ilusão permite-nos fantasiar, criar e sonhar, a realidade permite-nos ser honestos, disciplinados e responsáveis. O mesmo fenómeno sucede na recuperação da adicção. A pessoa impotente, de acordo com o léxico comum, significa uma pessoa vulnerável, fraca e condenada ao fracasso. Todavia, algumas pessoas identificam a vulnerabilidade (impotência) em relação à adicção, todavia isso não é impeditivo de terem o controlo sobre as suas atitudes, comportamentos e adoptar estilos de vida saudáveis e construtivos. Por exemplo, o individuo que está abstinente de drogas, incluindo o álcool, em recuperação, é impotente perante as substâncias psicoactivas alteradoras do humor (sistema nervoso central), porém consegue ter o controlo necessário para fazer a sua vida. O individuo que é adicto ao jogo, ao sexo, distúrbio alimentar que está em recuperação é impotente perante determinados atitudes e comportamentos de risco, que reforçam a logica adictiva (compulsiva), porém consegue ter o controlo necessário para executar as mais diversas tarefas e actividades do seu dia-a-dia.

Um dos paradoxos muito comuns. Não somos a pessoa que dizemos ser ao nosso parceiro/a, ao familiar, nosso amigo/a, colega de trabalho; na realidade, somos aquilo que concretizamos; aquilo que fazemos que está certo e/ou errado. Por exemplo, empregamos palavras elaboradas e evocamos princípios, para justificar um exercício de retórica, mas aquilo que fazemos, na realidade não é coerente e íntegro.
Para si que está em recuperação da adicção integre os paradoxos da vida de acordo com o alinhamento das suas próprias convicções e princípios. Outro dos paradoxos que a maioria dos adictos, em recuperação encontra é; a recuperação da adicção é um projecto individual, todavia porém, é reforçado pela qualidade dos relacionamentos das outras pessoas. Da adicção ninguém recupera sozinho. Todos nós possuímos uma história para contar, todos nós temos problemas e a dada altura das nossas vidas precisamos de ajuda.