sexta-feira, novembro 28, 2008

O Alcoolismo ofende os afectos ao longo das gerações - parte II



(continuação)

Redescobrir a Vida para além da negação e da culpa – Recuperação

Quando me refiro ao termo Recuperação (mudança de estilo de vida) aplica-se, não só ao alcoólico, mas a todos os membros da família, incluindo as crianças. Torna-se imperativo identificar e desmantelar a “regra do silêncio”. Enfrentar e lidar construtivamente com o sistema disfuncional dos sentimentos intensos ou reprimidos (a negação, o trauma, a culpa e vergonha, a rejeição e a inadequação, o isolamento, medo e o ressentimento, a ansiedade e a depressão) que comprometem seriamente a hierarquia familiar.

Abdicar de atitudes e comportamentos “extremistas”, disfuncionais (erros cognitivos, relacionamento de amor ou ódio) e aprender a viver nas “zonas cinzentas” – novas aptidões cognitivas e do comportamento ex. ser flexível, espontâneo/a, assertivo/a, sentido critico construtivo, honestidade, focado nas soluções em vez de nos problemas, auto estima, responsabilidade e entrega. Não existem relações nem pessoas perfeitas. Em recuperação a família aprende a confiar e a ser autónoma renunciando viver codependente dos outros.

Por vezes observo que a “ovelha negra” é aquele membro da família que consegue adoptar atitudes e comportamentos mais saudáveis e equilibrados. Parece reger-se por um diferente conjunto de regras – resiliência. É importante desenvolver novos relacionamentos que funcionem como um “espelho” ou uma referência. Reaprender novas rotinas e crenças (a falar, a confiar e a sentir) em conjunto com outras pessoas. Isto acontece principalmente em Grupos de Ajuda Mutua dos 12 Passos.

Mais uma vez, gostaria de reforçar a importância das emoções e dos afectos. Fazem parte do todo complexo (corpo, mente e espírito) é necessário identifica-las (Eu sinto…) monitoriza-las e cuidar delas com amor e respeito. Adquirir talentos cognitivos na gestão das emoções intensas e/ou evitar reprimir. Não se pode ser feliz abafando uma parte viva e criativa do nosso ser. É ok sentir raiva, medo, frustração e insegurança e cometer erros. Por vezes, é ok perder o controlo. Experimente passar o “volante do carro” para as mãos de outra pessoa de confiança e deixar-se levar, usufruindo e gozando a liberdade de escolha e entrega. Um dia de cada vez.

Segundo Tian Dayton, Ph. D. é preciso ensinar os membros da família a desenvolverem competências que os ajudem a tolerar “emoções fortes e intensas” sem que necessitem agir nelas (acting out). É preferível falar sobre o que se está a sentir (emoções intensas) naquele momento, através de uma plataforma de entendimento, em vez de explodir ou implodir.

Proponho um desafio. Objectivo: “quebrar a regra do silêncio”. Se você se identifica com algo neste texto siga a minha sugestão: Fale com alguém de confiança sobre os seus sentimentos. Se desejar pode enviar para xx.joao@gmail.com relatos ou experiencias significativas escritas associadas a ambientes familiares disfuncionais associados ao alcoolismo. Atraves do seu exemplo em "quebrar a regra do silencio" outros seguiram o mesmo caminho. Recuperar É Que Esta a Dar

terça-feira, novembro 25, 2008

O Alcoolismo ofende os afectos ao longo das gerações - parte I



O alcoolismo pode igualar-se a um conjunto de doenças (ex. doenças cancerígenas, diabetes) que são herdadas na família. Ao contrário destas doenças que referi, o alcoolismo, infelizmente não é sobejamente conhecido e investigado (prevenção, tratamento e recuperação) em Portugal pelas entidades competentes e profissionais.

Há muitas gerações, que se perdem no tempo, que pertencemos a uma “cultura que bebe”, que reforça e promove o consumo de bebidas alcoólicas, em alguns casos, até o abuso do álcool é considerado normal, corajoso, destemido, engraçado e divertido.

Não é novidade que o álcool é um óptimo “lubrificante” nas relações entre pessoas e também associado a uma “fonte” de lazer e bem-estar. Se no inicio de um acto social, nos sentimos desconfortáveis ou constrangidos, após ingerirmos uns “copos” passados uns minutos já nos sentimos aliviados, desinibidos e “confiantes.”- “Muleta extra” utilizada para “quebrar o gelo. Por isso, muito cedo (em alguns casos durante a adolescência) aprendemos estes comportamentos mas raramente os desaprendemos. Podemos recorrer á “muleta” sempre que quisermos porque sabemos perfeitamente que “Não nos vai deixar mal.”


Reconheço vários aspectos benéficos no consumo de bebidas alcoólicas na nossa sociedade. É obvio que o álcool consumido de forma consciente e saudável não representa perigo. Várias vezes refiro que o álcool não é o problema nº 1, mas as pessoas (aquelas que não estão informadas, aquelas que o consomem abusivamente e aquelas que o vendem abusivamente). Não sou “fundamentalista”, mas um cidadão (e pai) e um profissional atento aos problemas relacionados entre as pessoas (sociedade) e o álcool.

Todavia gostaria de “debruçar” sobre os efeitos do alcoolismo na família, ao longo de gerações, e expor questões que na minha opinião, continuam ignoradas e negligenciadas, o que é grave (CRISE negligenciada). Não é nada que não se saiba, mas raramente se investiga e discute até ao surgimento de notícias trágicas e comoventes – ex. casos extremos violência doméstica associados ao alcoolismo e casos de negligência e/ou abuso (físico, sexual e emocional) de crianças associados ao alcoolismo.

domingo, novembro 23, 2008

Compreender a Ansiedade Social


Compreender a Ansiedade Social: Medo da rejeição, por Rick Nauert, PH.D. (Sénior News Editor) revisto por John Grohol Psy. D

Para indivíduos com ansiedade social, por vezes “conduzidos numa direcção errada e cristalizados”, um novo estudo veio revelar que os indivíduos ansiosos necessitam de melhorar as suas competências e talentos de forma a quebrarem o ciclo da rejeição social.

Os investigadores da Universidade de Maastrich procuraram descobrir quais os factores que influenciam os indivíduos não ansiosos a adoptarem medidas de rejeição junto dos indivíduos com ansiedade social (são menos aceites, menos reconhecidos e menos tolerados).

Os indivíduos com quadros de ansiedade foram observados em duas tarefas com componentes sociais: o seu discurso e na forma como se davam a conhecer a outras pessoas. Quer as pessoas não ansiosas que participaram no referido estudo, como aquelas que observaram, ambas partilharam as suas reacções pessoais em relação aos indivíduos com ansiedade social.

sábado, novembro 08, 2008

A Mulher e as Dependências




Ao longo da minha experiencia profissional tenho procurado averiguar sobre os factores que contribuem para que algumas mulheres sejam afectadas pelas dependências, refiro-me às substâncias lícitas adictivas (ansioliticos, benzodiazepinas barbitúricos, anfetaminas, analgésicos, etc.) incluindo o álcool e as ilícitas (cocaína, heroína) e quais os factores que as motivam a pedir ajuda profissional e iniciarem a sua recuperação.

Por exemplo, para as mulheres alcoólicas a vergonha e a negação são os obstáculos mais óbvios a ultrapassar. Para a maioria das mulheres que se debatem com dependências não procuram ajuda, porque não encontram urgência para receber apoio profissional (tratamento) e sentem-se envergonhadas e abafadas pelo seu problema. Na nossa sociedade, a imagem do alcoólico está profundamente associado ao homem. Nunca à mulher. Aparenta existir um enorme estigma associado ao alcoolismo e/ou dependência das drogas na mulher. Por vezes, o alcoolismo na mulher é utilizado em anedotas e brincadeiras ridículas. Parece não ser levado a serio.

Não procuram ajuda porque ficam ansiosas e com medo sobre aquilo que os seus amigos/as, membros de família, incluindo os filhos/as, colegas de trabalho podem pensar. Em muitos casos não sabem o suficiente sobre o conceito de doença associado às drogas adictivas (licitas e/ou ilícitas) incluindo o álcool. Muitas mulheres combinam álcool com drogas lícitas. Estas combinações são altamente adictivas e perigosas (morte).

domingo, novembro 02, 2008

Pedido de Ajuda Corajoso - Jogo Patológico



Este é um pedido de ajuda corajoso de uma pessoa que deseja ajudar alguém proximo que está "doente".

Em muitos casos algumas pessoas (membros da familia)adoptam o "silêncio disfuncional" contribuindo dessa maneira para a progressão da adicção - atraves da facilitação, da negação, do encobrimento, da manipulação, da mentira, da vitimização, da desonestidade, racionalização, etc.

Aproveito para divulgar o email (pedido de ajuda) e resposta que considero mais apropriada, visto estar limitado à informação sobre o caso/problema.

"Boa tarde, chamo-me Carolina (nome ficticio)

A minha pergunta é a seguinte:

Um homem com 45 anos sofrendo de ludopatia (adicção ao jogo – jogo patológico) tem recuperação, sem ajuda? Joga muito em jogos de apostas – euromilhões, totoloto e lotaria, envolvendo-se em dívidas que quase o fizeram perder o emprego. Esse comportamento foi herdado do pai sendo que a mãe tem comportamentos obsessivos e adição ao álcool) O que posso fazer para ajudar ou quem posso consultar. Agradeço desde já a sua atenção, pois não sei como lidar com esta situação nem como ajudar