quarta-feira, janeiro 24, 2018

Abecedário da Recuperação dos Comportamentos Adictivos




  • Comportamentos Adictivos 2018
Abecedário da Recuperação. As palavras são poderosas e mudam as pessoas.
Abraços
Brindar
Convicções
Despertar
Espiritualidade
Felicidade
Genuinidade
Historia
Identidade
Justiça
Limites nas relações
Meditação
Nós
Objetivos
Poder superior, conforme cada um o concebe
Qualidade
Resiliência
Sentimentos
Tolerância
União
Voluntariado
Zelo


  • Caso você pretenda acrescentar algumas das suas palavras, ao ABC da recuperação envie email para xx.joao@gmail.com com as palavras ABC da recuperação no assunto da mensagem. Bem haja

sábado, janeiro 20, 2018

Sinais dos tempos - a adicção aos videojogos


Desde os tempos mais remotos, o ser humano precisou de se alienar, de negar a realidade e adapta-la à sua vontade, de entrar em contacto com algo que o transcenda, precisou de “amortecedores” e “filtros” para se relacionar consigo próprio e os outros. Há vinte anos atrás, em Portugal, as adicções mais conhecidas eram as dependências de drogas ilícitas, vulgo toxicodependência (termo em desuso), o alcoolismo e numa escala mais reduzida o Jogo patológico a dinheiro nos casinos. Na ultima década, as “velhas” adicções mantêm-se inalteráveis, com algumas mudanças (novas substancias psicoactivas ilícitas foram descobertas) e surgem as novas doenças do comportamento adictivo relacionados com a Internet (redes sociais, os videojogos e o jogo patológico online a dinheiro). Mais recentemente, surgiram noticias nos meios de comunicação social de que a Organização Mundial de Saúde decidiu que a adicção aos videojogos (comportamentos adictivos) será incluída na revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, previsto para 2018 cuja sigla é conhecida como CID. Significa que, brevemente, todos nós iremos ter acesso aos critérios de diagnostico da doença e a respetiva legislação. Costumo dizer que jogar está no nosso ADN: quem é que não gosta de jogar? Quem é que joga para perder? Talvez por isso os vídeos jogos sejam uma indústria milionária que gera milhões de euros em todo o mundo.

Enquanto aguardamos pela revisão do CID, podemos avançar com um dado importante sobre a adicção aos videojogos, indicador comum identificado também em todas as adicções, seja às substâncias psicoactivas do sistema nervoso central, vulgo drogas, incluindo o álcool ou os comportamentos (jogo patológico a dinheiro, sexo, compras, shoplifting/furto, perturbação do comportamento alimentar, dependência emocional). Este indicador encontra-se nas estruturas cerebrais envolvidas no prazer e recompensa (neurotransmissores) que comprometem seriamente a motivação, a memoria, a atenção/controlo. Simplificando, para que toda a gente perceba, umas pessoas mais do que outras, todos perdem o controlo do seu comportamento adictivo. A partir do momento em que a adicção é despoletada, o individuo revela-se incapaz de prever com exatidão as consequências do seu comportamento problema; consequências na saúde (física, mental e espiritual), na família, na escola/trabalho, justiça, questões económicas/financeiras.

quinta-feira, janeiro 11, 2018

São necessarios mais consensos do que divergências contra o estigma, a negação e a vergonha


Ao longo do meu trajeto profissional, desde 1993, escuto utentes motivados para recuperar (mudar) dos comportamentos adictivos, apesar da impotência e da perda do controlo, consequência da adicção (dependência de drogas lícitas ou ilícitas, incluindo o álcool, jogo patológico, sexo compulsivo, perturbação do comportamento alimentar, dependência emocional, videojogos, Internet) que colocam questões, com toda a legitimidade, sobre o tipo de tratamento mais adequado. É perfeitamente legitimo terem duvidas e/ou questões, todavia, as repostas não são de acordo com as suas expectativas e naturalmente, possuem a predisposição para ficarem resistentes ou ambivalentes. Quem é que gosta de mudar de atitudes e comportamentos? O ser humano foge da mudança. 

Ao contrario do que acontecia há vinte anos atrás, atualmente existe imensa informação, mas os mitos e tabus teimam em persistir sobre a adicção, ao longo dos anos, atribui-se a causa do comportamento adictivo ao stress, ao esposo/a, “às companhias”, problema de infância, período atribulado (separação/divorcio, desemprego, doença), trauma, conflitos familiares. Quando pensamos na causa e no tratamento da adicção, tudo isso, representa apenas uma parte do problema. Os próprios investigadores e terapeutas seniores não encontram um consenso sobre esta matéria. 

Na realidade, quando pretendemos tratar indivíduos doentes da adicção somos conduzidos para um universo muito mais complexo; refiro-me aos fatores neurológicos, biológicos, psicológicos e sociais. Atualmente, graças aos avanços tecnológicos (ressonância magnética) é possível compreender as implicações da adicção no cérebro – modelo de doença (estrutura cerebral responsável pela motivação, memoria, atenção/controlo e recompensa/prazer). Paralelamente, aos avanços tecnológicos, no plano das teorias do comportamento sabemos graças ao Project Match, estudo patrocinado pela National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (Treatment Research Branch), nos EUA (desde 1989 a 1994) a seleção/eleição de três modelos comprovados no tratamento: 1 Entrevista Motivacional 2 Terapia Cognitiva Comportamental e 3. Twelve Step Facilitation (oriunda dos 12 Passos dos Alcoólicos Anónimos), mesmo assim e apesar dos esforços, dos avanços e/ou teorias ainda não existem comprimidos, receitas, profissionais ou abordagens terapêuticas milagrosas que funcionem para todos da mesma maneira, vulgo cura. Talvez esta seja uma das razões para a existência teimosa dos tabus e mitos. Cada caso é um caso e o utente é que faz o trabalho em recuperar da adicção, nesse sentido, como profissionais, precisamos de saber como compreender, apoiar e orientar.  Anteriormente, como profissionais, pensávamos que a inadequação do utente diante a teoria/modelo de tratamento era devido à sua negação – “Ainda não bateu no fundo…ainda tem que sofrer mais.”. Atualmente, pensamos que a inadequação, vulgo “negação” do utente pode estar no modelo que apresentamos, porque os utentes, embora impotentes, continuam a querer mudar o comportamento problema/adicção. Recordo alguns casos, de utentes que acompanhei, em “negação”, mais tarde encontrei-os com vidas saudáveis; segundo eles, recorreram a outros profissionais ou instituições e outros conseguiram faze-lo sozinhos, certamente acompanhados por familiares. Estes encontros serviam para questionar, refletir e pensar na minha abordagem sobre a motivação e a mudança de comportamentos adictivos; estes encontros foram verdadeiras lições transformadoras.