terça-feira, março 31, 2009

As Drogas eleitas pela nossa sociedade



Somos uma sociedade (cultura) que promove e desenvolve “o culto cool” e da moda associado ao consumo de drogas psicoactivas adictivas - lícitas, incluindo o alcool, a nicotina e as drogas ilícitas. Será uma forma diferente, original e criativa de pensar e experimentar sensações e/ou fazer coisas? Ou optamos pelo caminho mais fácil (atalhos) na ânsia de procurar responder aos milhares de estímulos e expectativas a que somos sujeitos, dia-a-dia?


Portugal é o país da Europa com menor numero de estudos especializados realizados especificamente acerca do consumo de álcool e dos problemas a ele associados (Simpura e tal.,2001). 
Quais são as pessoas e ou organizações interessadas em investigar as consequências autênticas do álcool na nossa sociedade? Qual o interesse publico desta informação? Qual é o impacto e o custo na sociedade portuguesa associado ao alcool? Na família, incluindo as crianças. E das outras drogas, lícitas, medicamentos sujeitos a receita medica (ex. benzodiazepinas - tranquilizantes, ansioliticos) e as drogas ilícitas?
Uma parte significativa da nossa população, cujos números exactos (estudos epidemiológicos[i]) não se conseguem obter com exactidão, (desde os jovens, aos adultos, incluindo a população sénior) recorre com mais ou menos frequência, ao consumo de substâncias psicoactivas susceptíveis de causar dependência, designado de auto medicação.

Usar drogas é um acto voluntario, uma escolha individual, que pode ser sujeita ou não à pressão do grupo e do ambiente. Nem todos os indivíduos que consomem substâncias psicoactivas adictivas desenvolvem um problema de abuso ou dependência, assim como consumir esporádicamente seja sinónimo de doença, mas existe um certo grau de risco (dependendo da potência/efeito da substância, a dose administrada, a duração do consumo e das características do próprio consumidor). Estes factores (neurologico-bio-psico-social) juntos podem contribuir para um problema grave de saúde, familiar e profissional.

Cada um elege as drogas que lhe proporcionam o efeito desejado. A mesma droga não é eleita por todos. Existem drogas para todos os gostos. Algumas pessoas usam drogas por mera curiosidade, outros para se divertirem, outros para praticarem desporto, praticar sexo, para “fugirem” ao stress e à pressão diária, para trabalhar, para relaxarem, por motivos de doença, outros recorrem às drogas porque abusam e por último aqueles que estão dependentes (doença da adicção).

Existe uma relação entre a oferta e a procura que faz com que hoje as drogas estejam mais disponíveis e presentes no dia-a-dia das pessoas, comparativamente à 15 anos atrás. Provavelmente, todos nós conhecemos, directa (ex. um familiar, ou amigos) ou indirectamente (ex. amigo do amigo), alguém que nesta altura tenha ou já tenha passado por um problema com drogas, incluindo o álcool.
  
Porque é que uns sofrem horrores e destruição nas suas vidas, associado às drogas psicoactivas adictivas, incluindo o álcool, ex dependência (doença/adicção) e outros não?

Através do consumo de drogas aprende-se a oscilação das emoções e descobre-se todo um “novo mundo” de novas experiências sensoriais e singulares que de outro modo não seria possível experienciar.

A dependência às drogas lícitas, incluindo o alcool e a nicotina, e/ou ilícitas psico-activas, é uma doença do cérebro (adicção). Sabemos que o consumo de drogas altera a percepção (ideias, compreensão) e o funcionamento normal do cérebro (neuroquímica/neurotransmissores) enveredando o adicto na senda da gratificação imediata, procura aquela sensação de prazer e/ou bem-estar única capaz de gerar energia extra, capaz de modificar e ou atenuar (dormente) as emoções dolorosas; ex. raiva e ressentimento, o medo e a insegurança, rejeição numa relação romântica, despedimento (frustração), perda de alguém querido, cansaço físico e/ou sensação de falta de energia, ansiedade e ou sentir-se deprimido etc. As drogas psicoactivas modificam a forma como as pessoas sentem, pensam e agem.

quinta-feira, março 26, 2009

Testemunho/Partilha de Recuperação


“O Fantasma da Licenciatura”

Foi em 1987, bem no auge da adolescência, que a minha adicção despertou.

Nesse ano, entrei para a Universidade e foi nessa época que eu descobri o meu lado “negro”. A adicção tinha estado escondida em mim embora de vez em quando ela se tivesse manifestado em atitudes compulsivas e desviantes quando eu era mais pequeno. Desta vez a doença da adicção veio para ficar e para arruinar todas as áreas da minha vida. O meu corpo, a mente, o curso, a família, os vários empregos, os sonhos, os projectos, tudo foi arruinado.

Então, em 1997, mostraram-me Narcóticos Anónimos (N.A.)[i] através de um Poder Superior[ii] a mim mesmo que vim a conhecer algum tempo mais tarde. Foram os meus amigos que me levaram. “Vem. Vais reconquistar tudo de novo”. Eu não tinha nada a perder.

Um ano passou desde o meu porta-chaves “Só Por Hoje”[iii] e eu só vivia para os “Passos”[iv] e para a recuperação - “Homem-Programa”[v] era como me chamavam. Fiz (e continuo a fazer) muito “serviço”[vi], enraizando-me cada vez mais em N.A. Que nome lindo e profundo! Narcóticos Anónimos!
Terceiro ano e “vai ser agora, vou voltar a estudar”. O meu “padrinho”[vii] incentivava-me. Força. Vai em frente! Fui matricular-me… Mas que sensações, que sentimentos estranhos, que medo, que tremedeira me deu nas pernas. Inscrevi-me, paguei as propinas, mas… não regressei lá nesse ano. Nem no ano seguinte.