domingo, fevereiro 03, 2008

Jogo compulsivo - Comportamento Adictivo



"O jogo compulsivo é uma adicção. Tal como o alcoolismo, foi reconhecido como uma doença mesmo antes de existir os Alcoólicos Anónimos, nos EUA. Até recentemente não existiam programas ou profissionais que soubessem exactamente como lidar com esta doença, visto não existirem substancias ingeridas ou introduzidas no corpo. Investigações recentes em indivíduos (neurotransmissores e em substancias endógenas ) permitiu que este tipo de comportamento fosse agrupado nos comportamentos adictivos.

O National Council on Problema Gambling em conjunto com o National Council of Alcoholism divulgou que o jogo compulsivo é uma doença, e também como um problema de saúde publica. Estas organizações estimam que mais que 10% dos americanos gastam dinheiro em casinos e lotarias, ultrapassando o limite que é permitido gastar pelos seus orçamentos pessoais. Muitos destes indivíduos tornam-se jogadores patológicos. Outros dedicam-se a actividades ilegais quando todos os seus recursos e créditos financeiros se esgotam no jogo.

Os Jogadores Anónimos (no seu livro “Sharing Recovery through Gamblers Anonymous, 1984) definem o jogo compulsivo como: “Qualquer actividade que envolva dinheiro ou não, por ex apostas e jogar. Não importa que seja algo insignificante ou expressivo mas cujo resultado seja impreciso ou que dependa de uma certa habilidade”. Simplificando, o jogo compulsivo « é algo que ultrapassa o controle emocional do próprio jogador.»

Algumas actividades que envolvem jogadores compulsivos; corridas de cavalos e cães, apostas desportivas, jogos de cartas, dados, casinos, “slot machines”, lotarias e bingo. As consequências negativas do jogo compulsivo na vida de um indivíduo contemplam: a  perda de tempo e dos recursos financeiros, alianças e actividades ilegais, prisão e fraudes de vários tipos. Tal como o alcoolismo, existem doenças físicas ou psiquiátricas que podem ser agravadas ou despoletadas pelo jogo compulsivo.

Fases do Jogo Compulsivo
Robert L. Custer , MD um proeminente pioneiro no tratamento de indivíduos diagnosticados com jogo compulsivo identificou três fases distintas na progressão do jogo compulsivo.
Na primeira fase, Robert Custer identificou a busca/inicio da euforia/acção – designada “sorte do principiante”, onde este perde e ganha nas suas sessões de jogo, perde algumas somas/poupanças significativas, faz empréstimos (ex. pede dinheiro emprestado a amigos ou familiares), todavia nesta fase ainda não sente o desconforto gerado pelos seus comportamentos.

Na fase da procura da reposição daquilo que gasta e perde surgem os danos significativas. Identificam-se as tentativas desesperadas de repor (reembolsar) as perdas, intensificam-se ainda mais as sessões de jogo. A autoestima deterioriza-se e o sentimento de culpa intensifica-se. Esta fase pode prolongar-se por décadas.

Na fase de desespero, o indivíduo é totalmente obsessivo com o jogo. As perdas e o individamento assumem dimensões significativas. Nesta situações, recorre-se a actividades ilegais como consequência da irracionalidade/impulsividade. A família, a carreira profissional e a vida social ficam devastadas. Nesta fase, os jogadores compulsivos contemplam o suicídio, a prisão, fugir ou pedem ajuda.”

Addiction-nary” Jan R. Wilson e Judith A. Wilson



Sabia que alguns estudos científicos recentes sugerem que os mecanismos cerebrais que conduzem ao jogo compulsivo são semelhantes aos dos consumidores de drogas que se tornam dependentes de uma substância psicoactiva. As ligações cerebrais e libertação de substâncias endógenas (existentes no corpo humano, neste caso no cérebro, como a dopamina e a serotonina), associadas ao prazer ou falta dele.

Sabia que através do recurso a imagens obtidas por ressonância magnética, consegue-se identificar que o prazer de “ganhar ao jogo”, como na roleta ou no black-jack, ilumina – no sentido em que afecta – num jogador compulsivo exactamente as mesmas zonas cerebrais que são activadas pelo consumo de uma dose de heroína ou cocaína por parte de um adicto a drogas.

Sabia que normalmente quando um casino procede a abertura suas portas (em Portugal, por volta das 15h00), assiste-se a um espectáculo que dificilmente se esquece: jogadores, tentam disfarçar a impaciência, à espera que abram as portas para rapidamente correrem em direcção à máquina "talismã", nas chamadas slot machines.

Sabia que apesar menos estudado e conhecido do que a toxicodependência, o jogo compulsivo afecta cerca de 1% de todos os jogadores (segundo números da Associação Portuguesa de Casinos), caracterizando-se pela repetição mecânica dos gestos e pela permanência horas a fio no interior da sala de jogo, indiferente a tudo o resto.

Sabia que tal como na dependência das drogas, os jogadores compulsivos perdem o autodomínio e capacidade de controlar quer os ganhos, as perdas de dinheiro e a utilização dos tempos livres. Com a chegada da internet e dos casinos on-line, este tipo de comportamento adictivo tem vindo a crescer exponencialmente, ao ponto de haver países (como França) onde já há serviços hospitalares dedicados especificamente a este tipo de patologias.

Sabia que segundo a Associação Portuguesa de Casinos (APC), são cerca de 250 os jogadores proibidos de aceder a estas salas de jogo em Portugal.

Sabia que estas proibições são decretadas pela Inspecção-Geral de Jogos e aplicam-se a todos os casinos nacionais e não só a uma determinada e específica sala de jogo. Este conjunto de pessoas abrange tanto as que foram proibidas a seu pedido, como as que acabaram por ser expulsas por violação das regras dos casinos ou por iniciativa dos seus responsáveis na sequência de “procedimentos instaurados” contra os jogadores.
Sabia que quando a iniciativa de interdição da frequencia de casino, parte do jogador, não tem de ser indicado o motivo pelo qual requer que lhe seja vedado o acesso, o que dificulta a triagem de dados de modo a perceber quantos são os autênticos jogadores compulsivos (e incontroláveis); quantos passam por um problema momentâneo e esporádico e quantos têm o acesso vedado por iniciativa dos casinos.

Comentário: Acompanho adictos (a drogas e ou álcool) em recuperação, onde após um período de abstinência iniciam comportamentos adictivos em relação ao jogo. Recorrem a esta actividade como uma forma de lidar com a ansiedade e às rotinas diárias (aborrecimento e tédio). Aparentam ter expectativas elevadas de si próprios em relação aos seus objectivos, seus sonhos e ambições e propósito na vida.
Gostaria de reforçar a importância de interromper o ciclo desgovernado e incontrolável (impotência) do jogo compulsivo. Todavia, não é suficiente o tempo que se permanece sem jogar, importa pedir ajuda a profissionais especializados de forma a iniciar um novo ciclo de mudança e conhecimento, conhecido como recuperação. Recuperar É Que Está A Dar


http://www.canneslionslive.com/press/win_4_7_01641.htm

http://www.janonimos.org/

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