sexta-feira, junho 12, 2009
Apanhada na Rede
Tenho 35 anos e nunca consumi drogas. Namoro há cerca de 2 anos com o Alberto (nome fictício), de 38 anos. O problema é o facto de me ter apercebido que o Alberto tem um problema com drogas. Sempre soube que ele consumia drogas desde a adolescência ( todas !) mas, desde que estamos juntos, pensei que fosse uma questão controlada e meramente social. Ou seja, sabia que por vezes, quando saía com os amigos, ao fim de semana costumava consumir cocaína. Nos últimos meses, percebi que na verdade não é assim.
O Alberto consome cocaína e por vezes cannabis todos os fins-de-semana. Em ocasião social "apropriada" ou não. Por mais que tente demove-lo ele nunca conseguiu resistir ou cumpre o prometido. Isto está a afectar gravemente a nossa relação, e mais importante que isso, estou certa que ele tem um problema e não sei como ajudar, até porque ele não o reconhece. É complicado falar com ele sobre este assunto, mas nas poucas vezes em que consegui, o que ele me disse foi: "Não tenho nenhum problema com drogas, o problema que tive com drogas está resolvido há 10 anos. Neste momento o único problema que tenho com drogas… és tu. Consumo drogas quando me apetece porque gosto, não me sinto mal e isso não afecta a minha vida profissional."
Já tentei várias coisas para tentar demovê-lo, já pedi a amigos que sei que ele tem em conta que o aconselhem. Nada tem resultado. Não sei o que fazer. Nesta altura, a única coisa que me parece restar é contar à mãe do Alberto (ela sabe que ele teve problemas com drogas na adolescência e pelo que sei fez o que estava ao alcance dela e na altura pareceu resultar.). Tenho receio por outro lado que isto degrade de vez a nossa relação e também a relação dele com os pais, agora que tem 38 e não 18! E seja ainda pior. Pode dar-me a sua opinião sobre este assunto? Há alguma coisa que me aconselhe?
Desde já muito obrigada pela sua opinião e ajuda.Subscrevo-me
Isabel (nome fictício)
Boa noite Isabel
Após ler o seu email apresso-me a felicita-la por pedir ajuda.
Apesar da minha limitação na informação sobre o caso do Alberto posso sugerir algumas orientações e algum “alimento pró pensamento”. Vou abordar duas questões importantes quanto ao problema da dependência de substâncias.
A primeira questão, e talvez para sua surpresa, está direccionada para a Isabel. Mantenha-se atenta ao seu comportamento. Isto é, não encobrir, esconder, não facilitar, não negar, não pactuar com coisas que não é capaz de cumprir ou com coisas que você não acredite, assim como minimizar as consequências da dependência do Alberto, na sua vida (trabalho, amizades, família, saúde mental – cognitivo-comportamental, etc.) e na vossa relação (observar que o Alberto não está presente, disponível, mentira, preocupação, na vossa intimidade, etc) . Você corre o serio risco de se tornar codependente (preocupação constante e dolorosa sobre o Alberto e o problema do Alberto) se enveredar pelo caminho da protecção e socorro, em detrimento dos seus valores e da sua família, seguindo um apelo interior (irracional) de ajudar, quando na realidade não está a fazer, pelo contrario, está a contribuir para a progressão e deterioração da doença. Obviamente que a Isabel não é culpada absolutamente de nada, todavia é importante definir limites e critérios na ajuda e no socorro. Pode ficar apanhada na “rede” da dependência, pelas suas emoções e pelos seus comportamentos, afinal você é um ser humano.
A segunda questão está direccionada para o problema do Alberto. Procure informação sobre o abuso e a dependência de substâncias psico-activas (drogas licitas e ilícitas, incluindo o álcool). Informação é poder. A dependência é um processo da qual o Alberto perdeu totalmente o controlo da sua vida e do consumo de substâncias. A componente lazer e social desaparecem totalmente. Torna-se incapaz de prever, com exactidão, as consequências do seu comportamento quando está sob o efeito e ou quando está abstinente, vulgo ressaca. Pela discrição do seu email o Alberto quando confrontado recorre a um sistema de defesa; racionalização, minimização, negação, culpar os outros ou coisas, racionalizar. Este muro - isolamento - que ele constrói, é extremamente difícil quebrar, todavia pode retirar tijolo-a-tijolo. Não confronte o Alberto com base na sua intuição. Reflicta as consequências com factos e coisas específicas e concretas (contrario de abstractas e generalistas). Pode socorrer-se de outras pessoas, mas lembre-se, coisas específicas e concretas. Faça uma lista de coisas que estão directamente relacionadas com as drogas e outros comportamentos disfuncionais; mentiras, promessas quebradas, juras, desonestidade, objectos ou coisas relacionadas com drogas.
Espero que tenha contribuído com alguma luz no túnel.
Se desejar, caso seja residente na área do Porto, recorrer às consultas, caso contrário pode optar pelas consultas Online. Estou disponível para ajudar.
Gostava de saber se permite que publique, nos blogues, o seu pedido de ajuda corajoso, garanto total confidencialidade de todos os seus dados e do Alberto. È confidencial e seguro. O seu pedido de ajuda pode servir de “exemplo” visto as dependências afectarem a vida de milhares pessoas.
Os meus sinceros cumprimentos
O Alberto consome cocaína e por vezes cannabis todos os fins-de-semana. Em ocasião social "apropriada" ou não. Por mais que tente demove-lo ele nunca conseguiu resistir ou cumpre o prometido. Isto está a afectar gravemente a nossa relação, e mais importante que isso, estou certa que ele tem um problema e não sei como ajudar, até porque ele não o reconhece. É complicado falar com ele sobre este assunto, mas nas poucas vezes em que consegui, o que ele me disse foi: "Não tenho nenhum problema com drogas, o problema que tive com drogas está resolvido há 10 anos. Neste momento o único problema que tenho com drogas… és tu. Consumo drogas quando me apetece porque gosto, não me sinto mal e isso não afecta a minha vida profissional."
Já tentei várias coisas para tentar demovê-lo, já pedi a amigos que sei que ele tem em conta que o aconselhem. Nada tem resultado. Não sei o que fazer. Nesta altura, a única coisa que me parece restar é contar à mãe do Alberto (ela sabe que ele teve problemas com drogas na adolescência e pelo que sei fez o que estava ao alcance dela e na altura pareceu resultar.). Tenho receio por outro lado que isto degrade de vez a nossa relação e também a relação dele com os pais, agora que tem 38 e não 18! E seja ainda pior. Pode dar-me a sua opinião sobre este assunto? Há alguma coisa que me aconselhe?
Desde já muito obrigada pela sua opinião e ajuda.Subscrevo-me
Isabel (nome fictício)
Boa noite Isabel
Após ler o seu email apresso-me a felicita-la por pedir ajuda.
Apesar da minha limitação na informação sobre o caso do Alberto posso sugerir algumas orientações e algum “alimento pró pensamento”. Vou abordar duas questões importantes quanto ao problema da dependência de substâncias.
A primeira questão, e talvez para sua surpresa, está direccionada para a Isabel. Mantenha-se atenta ao seu comportamento. Isto é, não encobrir, esconder, não facilitar, não negar, não pactuar com coisas que não é capaz de cumprir ou com coisas que você não acredite, assim como minimizar as consequências da dependência do Alberto, na sua vida (trabalho, amizades, família, saúde mental – cognitivo-comportamental, etc.) e na vossa relação (observar que o Alberto não está presente, disponível, mentira, preocupação, na vossa intimidade, etc) . Você corre o serio risco de se tornar codependente (preocupação constante e dolorosa sobre o Alberto e o problema do Alberto) se enveredar pelo caminho da protecção e socorro, em detrimento dos seus valores e da sua família, seguindo um apelo interior (irracional) de ajudar, quando na realidade não está a fazer, pelo contrario, está a contribuir para a progressão e deterioração da doença. Obviamente que a Isabel não é culpada absolutamente de nada, todavia é importante definir limites e critérios na ajuda e no socorro. Pode ficar apanhada na “rede” da dependência, pelas suas emoções e pelos seus comportamentos, afinal você é um ser humano.
A segunda questão está direccionada para o problema do Alberto. Procure informação sobre o abuso e a dependência de substâncias psico-activas (drogas licitas e ilícitas, incluindo o álcool). Informação é poder. A dependência é um processo da qual o Alberto perdeu totalmente o controlo da sua vida e do consumo de substâncias. A componente lazer e social desaparecem totalmente. Torna-se incapaz de prever, com exactidão, as consequências do seu comportamento quando está sob o efeito e ou quando está abstinente, vulgo ressaca. Pela discrição do seu email o Alberto quando confrontado recorre a um sistema de defesa; racionalização, minimização, negação, culpar os outros ou coisas, racionalizar. Este muro - isolamento - que ele constrói, é extremamente difícil quebrar, todavia pode retirar tijolo-a-tijolo. Não confronte o Alberto com base na sua intuição. Reflicta as consequências com factos e coisas específicas e concretas (contrario de abstractas e generalistas). Pode socorrer-se de outras pessoas, mas lembre-se, coisas específicas e concretas. Faça uma lista de coisas que estão directamente relacionadas com as drogas e outros comportamentos disfuncionais; mentiras, promessas quebradas, juras, desonestidade, objectos ou coisas relacionadas com drogas.
Espero que tenha contribuído com alguma luz no túnel.
Se desejar, caso seja residente na área do Porto, recorrer às consultas, caso contrário pode optar pelas consultas Online. Estou disponível para ajudar.
Gostava de saber se permite que publique, nos blogues, o seu pedido de ajuda corajoso, garanto total confidencialidade de todos os seus dados e do Alberto. È confidencial e seguro. O seu pedido de ajuda pode servir de “exemplo” visto as dependências afectarem a vida de milhares pessoas.
Os meus sinceros cumprimentos
Publicada por
JOÃO ALEXANDRE RODRIGUES conselheiro certificado abuso de drogas e alcool
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sexta-feira, junho 12, 2009
Etiquetas:
aconselhamento,
adicção,
codependencia,
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mecanismos defesa,
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relações
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