sexta-feira, janeiro 02, 2009
Os Executivos e as empresas - Stress e a Adicção
O stress e uma carreira profissional exigente e ambiciosa podem ser uma combinação explosiva e altamente adictiva nas vidas de alguns executivos - homens e mulheres. Em muitos casos este fenómeno pode permanecer oculto e minimizado, até ao dia em que tudo desaba e acontece o impensável (crises emocionais, financeiras, profissionais, familiares etc.) como consequência dos comportamentos adictivos (drogas licitas e/ou ilícitas, incluindo o álcool, relações disfuncionais, jogo patológico, compras, sexo compulsivo, etc.).
Todos os profissionais estão vulneráveis a este flagelo. Recordo alguns casos de executivos/gestores completamente derrotados, humilhados, com sentimentos de culpa e baixa auto estima, apesar da evidências negativas da adicção evitavam a todo o custo enfrentar a realidade das suas vidas destroçadas pelos comportamentos adictivos que os forçaram e encaminharam até tratamento. Não queriam acreditar que todo o seu potencial, competências e regalias tinham sido substituídos pela mentira, a negação, a manipulação, a desonestidade, a auto piedade, a ansiedade e a angústia.
Características dos executivos
Uma personalidade “vencedora”, destemida e perfeccionista, aspiração à liderança e ao sucesso, ambição profissional e uma “forte queda” para os negócios são a “porta de entrada” para o mundo exclusivo dos executivos e para o mais alto nível empresarial. Principalmente, aqueles executivos - “ verdadeiros cérebros” - cujas empresas os valorizam como uma mais-valia para o seus negócios.
Viagens frequentes ao estrangeiro, subordinados e supervisores, relatórios e orçamentos exigentes e elaborados. Análises de projectos, investimento, liderança de equipas, operações de mercado de capitais e enfrentar todo o um conjunto de desafios colocados através da globalização, do desenvolvimento e do progresso. Um turbilhão de emoções constante e arrebatador gerador de produtividade, de recursos e ambição capaz de movimentar pessoas e empresas ao mais alto nível e exigência
Num mundo empresarial cada vez mais competitivo, dinâmico,
ambíguo e em permanente mudança o papel do executivo assume uma importância
vital para o sucesso, e em última instância para a sobrevivência das
empresas. Os executivos são pessoas inteligentes, disciplinadas, gestores
assertivos, determinados, organizados, directores, líderes e empresários.
Indivíduos ambiciosos e motivados que demandam realização profissional e
pessoal, assim como o desenvolvimento de boas praticas. È obvio que estas
características não são associadas aos dependentes de drogas e/ou álcool.Os
executivos são indivíduos extremamente bem remunerados, usufruem de um larga
amplitude nas tomadas de decisão para gerirem os seus negócios e as suas
responsabilidades. Sabem como superar obstáculos em situações extremas e de
pressão. Reagem depressa a desafios inesperados e a imprevistos. Todavia, estes
atributos excepcionais em muitos casos encapotam uma necessidade exagerada de
sucesso, de prestígio e de controlo - manifestam um medo patológico do falhanço
e/ou uma percepção de si próprios negativa. Negócios e sucesso profissional são
territórios sustentados por estas emoções disfuncionais e em alguns casos
destrutivos. Diariamente, podemos observar alguns destes casos em gestores,
políticos e executivos de topo na nossa sociedade.
Os “defensores” dos executivos – “braço direito.”
Os executivos são assistidos por subordinados e/ou
assistentes cuja função se limitam a efectuar uma gestão rigorosa e organizada
das agendas diárias - profissionais e pessoais - dos seus patrões/directores
aliviando toda a “carga supérflua” que possa interferir no tempo exclusivamente
necessário para gerir e gerar grandes empresas. Como é óbvio este tipo de
vantagens e regalias proporcionam aos executivos/gestores um direito a eles
assistido, todavia com os seus subordinados, pode passar-se precisamente o contrário.
Quando surgem dificuldades aos assistentes, directamente relacionadas com o
comportamento disfuncional dos seus patrões, é-lhes exigido respostas imediatas
- protecção e encobrimento - porem podem cair em algumas “armadilhas”
encapotadas e acarretam com algumas consequências negativas, alheias às suas
funções. Parte, senão todo o sucesso profissional destes subordinados – mesmo
que não as suas funções pelas quais foram contratados – é investido em proteger
o executivo/gestor de todos os problemas alheios à empresa/companhia.
Executivos e a vulnerabilidade emocional
Enquanto alguns executivos exibem, no seu dia-a-dia, uma
enorme exposição pública e uma vasta agenda de contactos, em muitos casos nas
suas vidas privadas escasseiam as relações de intimidade e de
amizade. Enquanto profissionais de topo, são incitados a tomar decisões
rápidas e a serem autónomos sem tempo para consultarem outras pessoas. Por
vezes, estes indivíduos são sujeitos a um grande sentimento de isolamento e
pressão. Enquanto o dia de trabalho dos executivos pode ser intensivo e
repleto de pessoas, na sua vida pessoal privada é caracterizado pelo
isolamento.
Estima-se que os gestores gastem aproximadamente 20% do seu
tempo em negociações, provavelmente esses 20% afectem os restantes 80% das suas
actividades (Baron 1989). Tanto a nível profissional como privado os
executivos/gestores possuem uma capacidade acima da média para gerir e
controlar o “mundo à sua volta” (pessoas, lugares e coisas). Quer seja pelo
elevado estatuto e prestigio, que molda as suas personalidades, quer seja pelas
suas responsabilidades elevadas; quando lhes é permitido refugiam-se numa “concha
protectora” do mundo atribulado à sua volta. Alguns traços de
personalidade tais como; o isolamento, percepção negativa de si próprio e/ou um
desejo desproporcionado de valorização pessoal, uma necessidade exageradamente
zelosa pelo sucesso, pelo controlo e o medo do falhanço são traços comuns ao
individuo que apresenta comportamentos adictivos, assim como ao executivo. Contudo
estes traços de personalidade podem ser exacerbadas em executivos de topo, o
seu ambiente profissional assim o exige, promove e reforça por causa do impacto
nos negócios, nas pessoas e nas empresas. Se qualquer tipo de
comportamento problemático é identificado nos directores/patrões que possa
representar uma seria ameaça à segurança no trabalho, aos orçamentos da
empresa, assim como às suas reputações “manchadas” e/ou ameaçadas,
imediatamente os seus assistentes podem sentir que o seu emprego esteja em
perigo e insurgirem-se em defesa/protecção do seu director/patrão. Nestas
situações “delicadas” o comportamento adictivo, do gestor/executivo, necessita
de ser monitorizado, caso contrário, facilmente assume proporções destrutivas -
área profissional e familiar - e dificilmente é controlado.
Em muitos casos, os comportamentos disfuncionais (adictivos)
em executivos são desculpados e, normalmente tolerados, por causa da posição
elevada na hierarquia que ocupam dentro das empresas.Torna-se particularmente
difícil intervir (questionar, abordar, enfrentar, confrontar, reflectir, etc.)
directamente nestes casos específicos, seja pelos próprios colegas, pelos
adjuntos e pelos subordinados, pelas mais variadas razões; ex. interesses
financeiras e/ou pessoais, os valores instituídos na cultura da empresa como a
lealdade, a amizade, a identificação e a compaixão legitimam a minimização, a
protecção e a negação (não se vê, não se fala e não se sente – regra do
silêncio). Todas aquelas medidas de intervenção que visem interferir e
interromper os comportamentos adictivos dos executivos são anuladas e
“boicoteadas” através destes mecanismos disfuncionais de facilitismo e
encobrimento. Num cenário ainda mais catastrófico, se o comportamento adictivo
do executivo/gestor é conhecido e banalizado por todos na empresa, pode
desencadear um conjunto de adaptações negativas dentro das hierarquias,
provocar desmotivação e perda do compromisso profissional de todos os seus
colaboradores. O resultado final é uma redução exponencial na produtividade,
fracos recursos humanos, faltos de criatividade, comportamentos de incúria e
depressão.
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