quinta-feira, janeiro 24, 2008

Drogas e a Adicção Cruzada


Existem drogas para todos os gostos e preferências. Umas drogas servem para relaxar, outras para dormir, outras para ficar mais activo, mais produtivo e "fecundo" (ex. trabalhar), outras servem para se divertir (ex. dançar ou conviver com o grupo de pares), outras para não comer (inibidores do apetite), outras para melhorar a actividade e resistência física, etc. Umas naturais, outras sintéticas.


Na minha opinião, não existem drogas leves nem drogas duras. São todas drogas cujas especificidades não devem ser menosprezadas nem embelezadas com bonitos e apelativos rótulos como por exemplo se faz com as bebidas alcoólicas e/ou com as drogas leves ou pesadas. Na sua generalidade, todas fornecem altos níveis de bem-estar, alivio, recompensa, gratificação imediata e profunda no ser humano, umas mais outras menos quer seja físico, mental e espiritual, não religioso sem dogmas e divindades. Afectam a maneira como nos sentimos, como pensamos e como agimos. Quem nunca se sentiu tentado, pelo prazer proibido ou através do “atalho” quando estamos desconfortáveis e inadequados em contextos sociais?!

Ao longo da minha experiência, não existem adictos que consumam substâncias psicoactivas lícitas, incluindo o alcool, e as ilícitas,  cujo efeito dessas mesmas drogas, após a sua ingestão o efeito surja passado 24 horas. Não! O individuo que consome drogas procura o efeito instantâneo, de preferência intenso e forte. Esta experiência para algumas pessoas é altamente gratificante e libertadora, de tal maneira, que o desejo de voltar a sentir a mesma experiência tende a repetir mais vezes. Todavia, ninguém fica adicto de drogas de um dia para o outro. Os comportamentos adictivos (adicção) são parte de um processo (comportamentos repetitivos) e de um complexo sistema de factores - cerebro-bio-psico-sociais. Em Dublin, na Irlanda, estudos revelam os filhos de pais alcoólicos apresentam uma pre-disposição para ficar adictos à heroina. De qualquer maneira, não é necessário ter uma predisposição genética para ficar adicto, sabemos que este factor só “ajuda” o processo da adicção.



O ciclo da adicção às substancias é basicamente o mesmo. Abrange três factores:
1) a dependência química,
2) comportamentos condicionados e hábitos (rituais) e
3) negação da necessidade e do habito.

Embora existam diferenças distintas e relevantes na sua complexidade, na sua essência as drogas são muito semelhantes. Além disso, essas diferenças tornam-se menos relevantes quando as pessoas apresentam consumos de varias substancias adictivas (policonsumos). Uma das principais diferenças apresenta-se com a progressão da adicção - ex. a cocaína, a heroina e as benzodiazepinas (por ex. ansioliticos, sedativo e hipnóticos) são substâncias altamente adictivas.

Enquanto ao alcoolismo, pode atingir a fase crónica ao fim de cinco, dez ou vinte anos, o individuo pode ficar totalmente dependente com a heroina e com a cocaína ao fim de um mês ou seis meses. Inicialmente, os individuos, procuram nas drogas o prazer e o alivio. Porém, as drogas apontam para uma tendência (reforço) no seu investimento nos consumos (frequência, duração e o efeito desejado). Enquanto o retorno ao nivel do prazer/alivio, atraves do efeito da substância, esta diminui com o tempo. Nesta situação aumenta a tolerância à substãncia, o adicto necessita de consumir maior quantidades da substância e mais frequente para eliminar a “tortura” do sindrome da abstinência, vulgo ressaca. 
Um individuo uma vez dependente a uma determinada substância psicoactiva é frequente ficar dependente de outra (ex. alcool e a cocaína). Alguns dados curiosos obtidos, atraves da minha experiência empírica, revelam que a grande maioria dos adictos a drogas e ou álcool admitidos em tratamento, desde 1993 até 2003, 1200 casos em regime de internamento eram fumadores de tabaco. A nicotina é uma substância psicoactiva, cujo efeito é estimulante e também tranquilizante. Recordo algumas excepções, contudo não ultrapassam o “numero de dedos de uma mão”. Também uma grande percentagem começou a consumir, após o consumo de tabaco, cannnabinoides (haxie e erva). Os cannnabinoides, são “uma porta aberta” para o consumo de outras drogas/substâncias psicoactivas, geradoras de dependência. Outros individuos consumiam drogas, exemplo heroina e também ingeriam quantidades significativas de bebidas alcoólicas e benzodiazepinas, em regime de auto-medicação (ansioliticos e sedativos) de forma a potenciar o efeito tranquilizante. Outros consumiam cocaína (estimulante) e também apresentavam consumos de benzodiazepinas, em regime de auto-medicação (ansioliticos e sedativos) e bebidas alcoólicas para “relaxar” e aliviar a tensão (ansiedade). Alcoolicos apresentavam consumos concomitante de benzodiazepinas. Outros para evitarem os sintomas do sindrome da abstinência, vulgo ressaca (angustia e o sofrimento físico e emocional) recorriam a todos os recursos possíveis e imaginários (cocktails de medicação, receitada pelo medico e outras drogas ilegais).

Todas as drogas licítas, incluindo o alcool e nicotina, e as ilícitas podem se tornar num problema grave e causar danos no cérebro e ou outros órgãos, incluindo a morte prematura. A nível psicológico pode causar depressão, ansiedade, psicoses, paranóia e em ultima caso, suicídio.

O sistema límbico (repsonsavel pelas emoções) é o nosso mecanismo mais primitivo, localizado no cerebro, que comanda certos comportamentos necessários à sobrevivência, por ex. fome / comer, perigo / atacar ou fugir. A adicção equaciona da mesma forma as drogas com a sensação de prazer/ alivio e também a necessidade de sobrevivência. Confrontado com a agonia da ressaca, o sistema límbico, pode sobrecarregar com funções /informações sensoriais no cérebro e este exigir /ordenar – drogas - Já. AGORA. “Não se olha a meios para atingir os fins”. “Doa a quem doer”. È uma questão de “sobrevivência”.

Pode acontecer que o cérebro e o sistema nervoso central não sejam capazes de fazer a diferenciação entre drogas, por ex. as legais e as drogas de “eleição” do adicto. Caso o individuo opte pelo modelo de recuperação da abstinência, pode necessitar de acompanhamento medico caso necessite de tomar medicação. O adicto não pode fazer a auto-medicação. 

Outro aspecto psicologico importante da adicção é a negação. È um mecanismo de protecção /defesa, chamo-lhe um “amortecedor” psicológico. Pode funcionar de duas maneiras:
como uma “arma”- como potenciador do problema, ou
como uma “ferramenta” como potenciador da motivação para a recuperação. Este mecanismo, como "arma", mantém e reforça o comportamento problema. Mantém o adicto num mundo de ilusão e irreal, atraves da lógica adictiva (justificações e manipulações). O ciclo da adicção (adictivo) só pode ser interrompido através da abstinência total de substâncias alteradoras do humor, geradoras de dependencia (psicoactivas).

Adicção Cruzada significa o consumo de varias drogas (policonsumos - ex. alcool com cocaína, alcool e benzodiazepinas, heroina e benzodiazepinas) – “cruzar” substâncias alteradoras do humor (psicoactivas). A Adicção Cruzada não é a mesma coisa que “cruzar” substâncias com comportamentos adictivos, ex. adicção ao jogo, trabalho, sexo, comida, etc.




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