sábado, janeiro 05, 2008

Controlo vs. Entrega - Influênciar



 Controlo 
"Um conceito disfuncional de crenças individuais e sociais sobre o controlo, será um dos grandes obstáculos à recuperação para qualquer adicto/a. Perda de controlo, luta pelo controlo e resistência ao controlo – são tópicos frequentes nas reuniões de interajuda dos 12 Passos dos Alcoolicos Anonimos e que normalmente geram grande discussão.

Controlo como uma Ilusão
Não se controla ou jamais se controlará pessoas e/ou algumas situações/eventos do dia-a-dia. A historia revela-nos que quantos mais os ditadores querem controlar uma nação inteira, mais violentos se tornam. Quanto mais se procura controlar a adicção de outra pessoa a probabilidade da adicção vir afectar negativamente a relação entre essas duas ou mais pessoas é enorme. Quando na realidade se começa a compreender que é completamente impossível controlar todos os nossos próprios comportamentos e crenças ou de outros à nossa volta, constata-se que o controlo não é nada mais do que pura ilusão.

Obstáculos ao 1º Passo dos Alcoolicos Anónimos (AA)- “Admitimos que éramos impotentes perante a nossa adicção; e que tínhamos perdido o domínio sobre as nossas vidas”

A ilusão, nos comportamentos adictivos, é um obstáculo real à aceitação do Primeiro passo, que refere “Somos impotentes perante a nossa adicção e que a nossa vida se tornou desgovernada”.
O adicto/a procura quase sempre mascarar a sua incapacidade de controlar afirmando com convicção “Quem eu?! Eu consigo controlar...
Quanto mais o adicto/a permanece agarrado a esta falsa crença, que está a controlar o seu comportamento problema, irá continuar imobilizado – “preso” no Primeiro Passo (impotência e desgovernabilidade), incapaz de progredir e evoluir (mudança) na sua recuperação.

A maioria dos adictos reconhece quando outras pessoas exclamam “Quanto mais quero controlar, mais difícil se torna sair do problema.
Porque é que é tão difícil abolir este tipo de comportamento destrutivo? Porque abandonar este tipo de controlo é demasiado ameaçador à doença da adicção (lógica adictiva). Outro factor importante, para a maioria dos adictos, tem a ver com o seu historial no relacionamentos com pessoas do tipo autoritário (figuras/modelos autoritários), identificam o pânico em perder o controlo e a "intoxicação mental" provocada pela ilusão de poder.



Famílias disfuncionais - aqueles cuja família de origem é disfuncional identificam um extrema dificuldade em se render ao controlo. Crescem numa família aprendendo a “sobreviver às crises dolorosas” através de controlo. Desenvolvem competências cognitivas/emocionais (mecanismos) de forma escapar à dor intensa (reprimindo e ou “adormecendo” a dor), sentem um medo intenso, ao pensarem que alguém, mesmo um Poder Superior comanda as suas vidas. De facto, as mesmas competências (mecanismos) que os mantêm “protegidos” emocionalmente e nalguns casos até fisicamente, essas mesmas competências podem interferir negativamente na sua recuperação.

Influênciar - Outro obstáculo à rendição/entrega da ilusão do controlo pode ser a inexistência de um modelo alternativo de forma a entender as situações corriqueiras do dia-a-dia. Processo cognitivo “Se não tens o controlo das situações. Então como é que se faz?"
Um conceito alternativo adequado è a Influência. Como não consegue controlar outros, todavia pode influenciar as suas vidas, por ex. ser um modelo/referencia. Este conceito da Influência, pode ser melhor entendido, se pensar, num extremo, existe um circuito de influencia mais profundo (ex. relação com um parceiro/a ou criança - filho/a) até à inexistência de qualquer tipo de Influência, no outro extremo oposto (uma influencia básica). Pode simplesmente influenciar aqueles por quem é responsável, em vez de os controlar. Este conceito pode ser algo libertador e suavizar o fracasso da necessidade de controlo.

Responsabilidade - utilizando o modelo de Influência em vez de controlo, torna mais acessível entender o conceito de responsabilidade. Certamente, terá responsabilidade para com algumas pessoas na sua vida – por ex. pais, parceiro/a, crianças, empregados ou entidade patronal, amigos. Pode de uma forma legitima aceitar alguma responsabilidade em influenciar as suas vidas de uma maneira positiva. Todavia, quando assume que pode controlar os outros a responsabilidade acaba por ser revelar um fracasso, logo desde o inicio. Esta atitude gera frustração, medo, culpa excessiva e a sensação de falhanço. Para um adicto/a pode servir perfeitamente de desculpa para ir beber, usar drogas, ir jogar ou comer compulsivamente, fazer compras, fazer sexo com outro/a parceiro/a, alheia à relação de compromisso.

O controlo como adicçãoObsessão extrema com o controlo pode facilmente tornar-se numa forma de compulsão ou uma adicção. Muitas pessoas que são tratadas por problemas de codependência sofrem deste tipo de obsessão e com a ilusão de controlo. Provavelmente, existe um processo bioquímico associado que normalmente contrabalança estado de ilusão/”cegueira” lógica adictiva. Uma interpretação extrema deste estado pode ser observada em pessoas com perturbação obsessiva-compulsiva.
Perturbação obsessiva-compulsiva é uma desordem de personalidade que vai para além da obsessão e compulsão da adicção. Muitos investigadores acreditam que esta perturbação da personalidade é causada por um desequilíbrio neuroquimico e encontra-se ligada à genética. Por. ex. lavar as mãos repetidamente, verificar várias vezes se trancou a porta, e se pegar algo com a mão esquerda "deve" pegar também com a direita..

Daquilo que sabemos da adicção, faz todo o sentido que aos adictos produzam estes desequilíbrios para além dos comportamentos adictivos. Em muitos casos a codependência e outras doenças familiares envolvem comportamentos obsessivos-compulsivos.
Faça você mesmo (instruções), muitos adictos perguntam, “Então o que é que posso fazer?!” e esperam uma resposta “milagrosa” ou uma lista de instruções “especiais”. Existe uma expectativa subtil (ansiedade que pode ser extrema) de que se seguirem as instruções cuidadosamente, conseguem adquirir o controlo e caso falharem a responsabilidade não é sua.  Este tipo de expectativa não é compatível com o Primeiro passo, dos AA, ou com a espiritualidade, que envolve o discernimento/conhecimento de que você nunca será Deus (omnipotente e omnipresente).

EntregaA boa noticia é que não precisa de entregar o controlo, mas, a ilusão do controlo. De qualquer forma não é possível controlar. È preciso experimentar a transformação da rendição/entrega na sua propria recuperação. Em ultima instancia, a solução ao controlo surge do Terceiro passo dos AA "Decidimos entregar a nossa vontade e a nossa vida aos cuidados do teu poder Superior conforme cada um O concebe" - seja Ele de que tipo for."

Bibliografia “Addiction-nary” Jan R. Wilson e Judith A. Wilson

Sem comentários: