domingo, setembro 08, 2024

Se os outros conseguem eu também consigo

Imagem Dall E 2

Um estudo publicado no Journal of Studies on Alcohol and Drugs apurou que os indivíduos que acreditavam não ter força para combater as suas ânsias eram mais propensos a voltar a beber ou consumir drogas. As crenças dos adictos relativamente à sua impotência eram tão relevantes para determinar se teriam uma recaída após tratamento quanto o nível de dependência física a que haviam chegado. O quadro mental é tão importante como a dependência física. Aquilo que pensamos e dizemos a nós próprios revela-se de uma importância extrema. Rotular-se a si mesmo como possuidor de fraco autocontrolo conduz a menos autocontrolo. Em vez de pensarmos e dizermos a nós próprios que falhamos (por exemplo: mais uma vez… é a segunda tentativa…) devido a qualquer tipo de carência, devíamos de pensar e dizer, a nós mesmos, precisamente o contrário. A conversa interior (selftalk/mentalmente) será mais produtiva se o fizermos com auto compaixão por enfrentarmos adversidades, por desistir, pela rendição, por dores de crescimento e cometer erros é ok. Vários estudos, concluíram que a auto compaixão proporciona uma forte motivação (mindset) relacionado com o bem-estar. Podemos mudar a moldura mental (selftalk - mindset)? Sim, através da mesma mente irrequieta que gera problemas (castigadora/rigidez/pensamentos negativos, juízo excessivamente critico) iniciamos um pacto de tréguas através do autoconhecimento, da autocritica construtiva (feedback com pessoas de confiança) e o poder da auto compaixão. Aquilo que pensamos e dizemos a nós mesmos, principalmente, nas situações adversas revela-se de extrema importância, se queremos mudar, mudamos o que pensamos e o que dizemos a nós próprios – a mente é a mesma, as crenças é que mudam.

Reprimir ou adaptar-se à emoção?

 

Fiodor Dostoievsky, 1863 escreveu o seguinte «Tente atribuir a si mesmo esta tarefa. Não pensar num urso polar. Imediatamente, verá que a maldita menção ao urso polar lhe vem à cabeça a palpitar durante um período de tempo. Mais recentemente, foram efetuados estudos sobre «pensarmos no urso polar e ficarmos a ruminar no assunto» e os resultados referem que a repressão do pensamento e emoção durante os primeiros cinco minutos, conduz a uma forma mais proeminente e intensa na mente dos participantes (artigo divulgado na publicação Monitor on Psychology). Quando reprimimos uma emoção estamos a enganar a nós próprios, pensando que ao faze-lo conseguimos afastar a fonte do descontentamento. É um mito, é uma falsa crença, não controlamos pensamentos e sentimentos. Quando estamos a reprimir pensamentos e sentimentos, naquele momento, estamos a permitir que as emoções surjam mais tarde, com intensidade e com diferentes nuances e dinâmicas. Gerador do efeito de «bola de neve», ficamos expostos aos impulsos, à negação, ao ressentimento, raiva e à autocritica negativa. Nestas situações, surgem as ânsias, a ruminação ansiosa, a ausência de auto compaixão, perda das funções cognitivas (lidar com conflitos adicionando mais conflitos) e o sentimento de autoeficácia mingua, sinais e sintomas identificados nos comportamentos adictivos.

 

Como promover o sentimento de autoeficácia perante a adversidade (adicção)?


Já alguma vez experimentou fazer ioga? Meditação? Já aconteceu, estar zangado e alguém perguntar: «Estas com raiva?» ou «estás com ciúmes?» ou «Vergonha»? E a sua resposta imediata: «Eu? Eu não sinto nada disso.... Estou bem.» A mente vagueia em todas as direções, com todo o tipo de pensamentos (alguns deles intrusivos). Muitas pessoas, desistem do ioga e/ou meditação, no primeiro mês, frustrados pelas suas próprias expectativas elevadas, afirmam: «Apesar do meu esforço e tentativas sem sucesso, não consigo controlar os pensamentos e sentimentos…resigno zangado», assim como, recorremos ao antigo mecanismo de reprimir e não expor os sentimentos: «Raiva? Eu? Está tudo bem…» «Ciúmes? Eu? Nada disso…» «Vontade de voltar à adicção activa? Eu? Não, nada disso…estou bem.» Mais uma vez, sucumbimos ao mito do controlo dos pensamentos e sentimentos.

 A função da mente irrequieta é divagar (efeito caleidoscópio) isso mesmo, executa a sua função na perfeição independentemente da nossa vontade: se tentamos resistir, maior é o atrito, instala-se o caos. É precisamente aquilo que receamos acaba por acontecer.


Conseguimos gerir a divagação, antes de gerar o caos? Conseguimos atingir o mindset -mudar o selftalk? Sim. De início, procuramos compreender, explorar, conhecer os mecanismos da mente irrequieta (pensamentos e sentimentos) que antes desconhecíamos ou negamos. Implica direcionar o foco para dentro de nós e identificar os estímulos externos. Cada vez que fizermos este trabalho, não buscamos resultados imediatos, estamos num processo de algo que desconhecemos.

Qual é o resultado deste trabalho? Iniciamos o processo, sabendo que a nossa imagem pessoal tem um impacto considerável no comportamento, reflete-se na nossa Identidade. A perceção de quem somos altera o que fazemos.


Por exemplo, a experiência empírica, é corroborada, através da investigação. No contexto profissional, abordo a adição de substâncias psicoativas e/ou comportamentos, como uma doença, o individuo adquire uma nova alcunha, é um/a adicto/a. Ao assumir a sua alcunha, assume um compromisso e uma identidade. Ao alinharmos os nossos comportamentos com a nossa identidade tomamos decisões com base naquilo em que acreditamos: «sou um adicto, sou uma pessoa normal e sou responsável pela manutenção da minha recuperação, mas não sou responsável pela doença. Sou um adicto que não quer sofrer mais as consequências negativas da perda de controlo (doença)». Afirmar «não quero» é completamente diferente de afirmar «não posso». «Não quero» refere-se aquilo que a pessoa é. É uma autoafirmação poderosa da qual o individuo sente orgulho e gratidão, assim como, é uma mensagem para as outras pessoas. Por exemplo, em contextos sociais, adictos que optam pela abstinência de substâncias psicoativas, incluindo o álcool, estão sujeitos a perguntas com espírito inquisitivo, tais como: «Não bebes? Não consomes bebidas alcoólicas? Porquê? Não faz mal, beber sociavelmente, pelo contrário…» Ao não consumirem bebidas alcoólicas assumem o «não quero», em vez do «não posso», é um pacto de identidade e podem construir a autoimagem que quiserem. Como ninguém recupera sozinho da adicção, o adicto recupera da sua adicção, perfeitamente integrado na sua família, na sua comunidade, na sociedade. Sabemos também da influência que os contextos sociais e relacionamentos têm na modelagem das autorrepresentações sociais e da identidade. Existem estudos, sobre a importância de ensinar aos outros dá mais motivação ao professor para mudar o seu próprio comportamento do que se aprendesse com um perito. Ensinar aos outros pode revelar-se ainda mais eficaz na modificação do nosso comportamento futuro, especialmente quando reconhecemos as nossas próprias dificuldades. Mas devemos pregar quando nós próprios estamos muito longe da perfeição? Segundo o estudo, quando as pessoas admitem erros passados são capazes de reconhecerem onde erraram sem que isso tenha implicações negativas para a sua imagem. Vemos isto acontecer, com alguma frequência, pessoas famosas afirmarem o pesadelo da adicção que viveram e que a recuperação é/foi o melhor que possa ter acontecido nas suas vidas e nas vidas dos seus familiares, colegas de trabalho, etc. Ensinar (ser um role model, um influenciador/a ou um/a adicto/a em recuperação) confere poder de construir uma identidade diferente (mindset), como é mostrado no ato de ajudar outras pessoas a evitar a insanidade de cometer os mesmos erros. A sabedoria popular afirma que as nossas crenças modelam os nossos comportamentos, o contrário também é verdadeiro.

«Não creio, no sentido filosófico do termo, na liberdade do homem. Todos agem não apenas sob um constrangimento exterior, mas também de acordo com uma necessidade interior.» Albert Einstein


 



 

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