Capacidades
e competências cognitivas e emocionais em recuperação.
Como podemos
executar melhores, e mais eficientes, planos de prevenção de recaída dos comportamentos
adictivos personalizados (cada caso é um caso), sabendo de antemão que estamos,
como seres humanos, expostos à perda da capacidade de avaliação? Da perda do
juízo, do discernimento, do bom senso e capacidade critica.
Nascemos e
vivemos com esta característica enviesada, portanto em recuperação dos
comportamentos adictivos este enviesamento está presente no caminho. Qual é a
atitude que desenvolvemos no caminho de recuperação que construímos, gostamos, protegemos,
queremos ver reconhecido e melhore a autoeficácia (olhar para nós mesmos como
vencedores perante a adicção)? Acontece com um número significativo de
indivíduos, há medida que avançam no caminho, pretendem que a recuperação seja
duradoura, mas mais importante, revele a melhor versão deles próprios (presente).
A recuperação dá trabalho, senão vejamos. Diante a mudança de atitudes e
comportamentos (por exemplo, reestruturação cognitiva e literacia emocional) já
não se utiliza o termo “Porquê”. Utiliza-se o termo “Como.” O individuo é o
agente da mudança.
Vou tentar
resumir o conceito de recuperação da adicção. Cada individuo, deverá ter o seu
próprio conceito de recuperação. Não é um único evento, é um caminho abrangente
e personalizado, abarca a abstinência de drogas lícitas e/ou ilícitas,
incluindo o álcool, a sobriedade, crenças/convicções, relações especiais com
pessoas significativas, planear e coordenar, identificar traumas e/ou
comorbilidades e procurar ajuda, reestruturação cognitiva e literacia emocional
(honestidade, compromisso, regular as emoções, assertividade, espiritualidade, promover
um estilo de vida que contempla a saúde física e mental, a carreira
profissional, hobbies, auto cuidado, fatores de risco e fatores de proteção da
deslize/recaída, relações saudáveis e um caminho/rumo com sentido e propósito.
O que significa avaliação? Quando procuramos a
melhor resposta/abordagem é importante recorrermos à avaliação/discernimento/capacidade
critica. Diante problemas, desafios e conflitos almejamos possuir capacidades e
competências eficientes e resilientes que promovam a autoeficácia.
Porque é que
o discernimento/bom senso/capacidade critica é tão importante nas decisões,
planos, objetivos?
Quando
marcamos uma consulta o que é que esperamos que seja o papel do médico? Trate da doença e restaure a saúde.
Quando
marcamos uma viagem, de avião o que esperamos sobre a função dos pilotos?
Os pilotos
executem corretamente as suas funções e consigam pilotar o avião até ao seu
destino.
Quando vamos
a uma entrevista de emprego importante o que esperamos que sejam as funções do
entrevistador?
Queremos que
o entrevistador efetue uma avaliação positiva e nos ofereça um trabalho na
empresa. Mesmo assim, os peritos mais ponderados, mais experientes e bem treinados
são suscetíveis ao preconceito (conjunto de crenças que conduzem o ser humano
na direção errada) e ao ruído (variáveis que interferem nas avaliações e que de
uma forma aleatória provocam o falhanço no alvo).
O que é o
ruído? Imaginemos que o entrevistador está mal-humorado e ansioso, antes da
entrevista soube de um problema grave na sua saúde e esta notícia inesperada irá
afetar a sua avaliação. De acordo com dados da Organização de Aviação Civil
Internacional (OACI), nos últimos dez anos, 70% dos acidentes aéreos são causa
humana. Perto de 1,25 milhões de seres humanos morrem nas estradas. Mais de 90% destes acidentes são de causa humana (Organização Mundial de Saude, global status report on road safety, 2015).
O primeiro
passo para uma avaliação, mais exata e concreta consiste em compreender as
maneiras pelas quais a mente humana se precipita a tirar conclusões. A mente
humana, nunca será perfeita, em fazer avaliações, recorrer à auto critica e ao
discernimento, mas conseguimos estar alerta sobre as limitações e fazer as
correções o melhor possível.
Recuperação
e deslize/prevenção da recaída
Avaliação, juízo,
sentença, opinião, discernimento, bom senso, capacidade critica.
Num dia tão
singular em que iniciamos o caminho da recuperação dos comportamentos
adictivos, o que é que pretendemos que aconteça?
Num dia tão
singular em que iniciamos a recuperação dos comportamentos adictivos, o que é
que a nossa família, os amigos, os colegas de trabalho/o chefe pretendem que
aconteça?
A maioria
dos indivíduos pretendem que não hajam deslizes/recaídas e que recuperação da
adicção seja um processo duradouro, próspero e resiliente. Tal como já foi
referido a mente humana, mesmo a mais brilhante, toma decisões preconceituosas,
enviesadas e está exposta ao ruído. Com a adicção, a recuperação e a prevenção
do deslize/recaída o fenómeno são idênticos.
Quais são as
competências, os recursos e mecanismos, o/a adicto/a pode adotar a fim de
conseguir manter-se em recuperação desde o início da jornada, apesar do ruído,
do preconceito, dos juízos de valor, dos julgamentos pré-concebidos?
Um número
considerável de indivíduos toma decisões impulsivas, precipitam-se em tirar
conclusões precipitadas erradas, avaliam as suas atitudes e comportamentos de
formas enviesadas que despoletam um conjunto critico de decisões que os
conduzem ao deslize/recaída. Também sabemos que o deslize/recaída não é o
resultado de um evento, é um caminho que se faz caminhando, no caminho errado. A exposição ao preconceito e ao ruído são
inevitáveis, se o individuo não interrompe este processo (o caminho) de
deslize/recaída através de uma avaliação, de um discernimento honesto e
realista, do bom senso, através de uma capacidade auto critica construtiva.
Após o
deslize/recaída quantas tentativas são necessárias que permitam desenvolver uma
boa avaliação, gestão de emoções, adquirir discernimento honesto e realista,
capacidade critica (estratégias de coping) e bom senso quanto aos factores de
risco de recaída?
Terence
Gorsky, Marlatt e Gordon, Prochaska e Diclemente foram alguns profissionais que
investigaram a prevenção da recaída e a mudança de comportamento. Cada um
defendeu o seu dogma, contudo nenhuma das abordagens são consideradas 100%
eficazes. Funcionam para uns, mas revelam-se ineficazes para outros.
Pode existir
algumas dúvidas sobre a diferença entre deslize e recaída. Deslize é, faço uma analogia
com o atletismo, na corrida de pista de 10.000 metros. Todos os participantes
estão alinhados à partida. O juiz dá a partida, e o pelotão inicia a sua prova.
Chegam aos 3.000 metros, depois aos 5.000 e nesta altura o pelotão está mais
alongado. De repente, um participante tropeça noutro participante, desequilibra-se
e cai na pista com imenso aparato. O bruar do publico presente é intenso e
ensurdecedor. O atleta estatelado na pista está em choque, tem duas hipóteses:
1) rapidamente, levanta-se e acelera a corrida para alcançar os colegas e
continuar em prova ou 2) está caído na pista, levanta-se cambaleando e desiste
da corrida dirigindo-se aos balneários. Descrevo o deslize no caso número um.
Nota: existiram casos de participantes caídos na pista que decidiram prosseguir
a corrida e no final ocuparam lugar no pódio.
Prevenção do deslize/recaída.
- Fazer uma avaliação estruturada, disciplinada, coerente e honesta - Plano
- Conversar, o mais honestamente possível, com pessoas sobre os preconceitos, juízos de valores, gestão de emoções, melhorar discernimento e bom senso.
- Praticar a capacidade critica, juntar o feedback e assertividade.
- Evitar tirar conclusões precipitadas. Ser paciente, porque a resposta, apesar de não ser imediata, pode estar ao virar a esquina.
- Planear e gerir. Perguntar a mim próprio se estou prestes a tomar a melhor decisão. Refletir se o meu/a minha melhor amigo/a, pessoa em quem confio, pensa sobre o problema/conflito. Perguntar a várias pessoas o que elas pensam sobre o assunto.
- Conseguir separar a esperança do medo, fundamentar as questões em factos e crenças que reforçam a avaliação, discernimento, a resiliência, bom senso. Esclarece dúvidas e faz perguntas. Antes de correres riscos, fala com alguém sobre a situação.
Quando iniciares a tua recuperação, vais
construindo um caminho sabendo das tuas limitações e erros. É possível recuperar dos comportamentos
adictivos se fizeres o trabalho de casa, difícil, repetitivo, honesto, atento e
feedback. Lidar com os conflitos, aceitar um não, regular as emoções, juízos de
valor, preconceito e ruído.
Sabendo que estás exposto e vulnerável ao
preconceito e ao ruído. Quais são os critérios que norteiam as tuas decisões na
prevenção da recaída?
O que é que
a tua família, os amigos, os colegas de trabalho esperam de ti sobre a
prevenção da recaída?
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