Leitura sugerida: "Perdas e Ganhos" - Autora: Lya Luft
quarta-feira, abril 18, 2012
O que é que aconteceu à felicidade da mulher?
Recue uns 40 ou 50 anos e imagine-se, como mulher, a viver
nos anos do Portugal do Estado Novo. Nesse passado não tão longínquo, as mulheres
casadas não podiam ausentar-se do país sem autorização escrita do marido e as
enfermeiras não podiam casar. A gestão dos bens do casal, incluindo da mulher,
pertenciam ao marido e numerosas profissões estavam legalmente vedadas às
mulheres.
Hoje os tempos são outros e, comparativamente, a situação
da mulher melhorou muito, mesmo que ainda haja muito a fazer culturalmente. As
mulheres são mais independentes, têm mais direitos e liberdades, formam-se em
maior número nas universidades, distinguem-se em diversas profissões e ascendem
a lugares de adminstração ou cargos politicos.
Com estas mudanças, teriamos, assim, muitos motivos para
ter elevados índices de felicidade nas mulheres, mas paradoxalmente tal não
acontece. Segundo alguns estudos* de referência, desde a década de 70 que o nível geral de felicidade da mulher nos EUA e na
Europa, tende a cair e acentua-se à medida que a mulher avança na idade,
contrariamente ao do homem. Em Portugal, as mulheres trabalham mais e dormem
menos, as doenças associadas ao estilo de vida e ao stress, assim como o
consumo de tabaco e anti-depressivos tendem a aumentar.
Podemos associar vários factores que comprometem a saúde
e o bem-estar da mulher, tais como factores biológicos mais propensos à
depressão, a sobrecarga de trabalho resultante da desigualdade na distribuição
das tarefas domésticas e responsabilidades familiares, o dilema carreira - família,
as exigências da educação dos filhos na sociedade actual, a pressão cultural para
corresponder a padrões de beleza e de desempenho irrealistas, entre outros.
Mas quando falamos de felicidade existem outras variáveis
a considerar. Na perspectiva do psicólogo e investigator Martin Seligman,
pioneiro da Psicologia Positiva, a felicidade é medida pela regularidade de
emoções positivas que uma pessoa experiencia, pela qualidade das relações que
fazem parte da sua vida, pela concretização de objectivos significativos, pelo grau
de envolvimento e gratificação no trabalho e pelo sentido que dá à sua vida, geralmente
associado a um sentido de missão através da religião ou de uma filosofia
espiritual e serviço ao próximo.
Na prática, e aplicando à mulher actual, estamos a falar de
atitudes, valores e comportamentos. Ou seja, o conceito que tem de si própria,
a forma como define sucesso e fracasso, belo e feio, suficiente e insuficiente
e como vive o dever e o prazer. Falamos da relação que desenvolve com o seu
corpo, respectivas necessidades e limites, com as suas emoções, se reprime a
raiva, disfarça a tristeza ou martiriza-se pela culpa; referimo-nos às
capacidades, dons e talentos que são ou não utilizados; à importância das
amizades e da intimidade, à qualidade de tempo que investe nas relações vitais e
à quantidade de tempo que desperdiça nas relações disfuncionais; falamos dos
objectivos que quer realizar na sua vida e do risco e determinação que envolve
concretizá-los, do legado que quer deixar e do sentido de vida que quer dar.
Hoje a mulher tem mais oportunidades e opções. As leis e
as políticas ajudam mas não fazem o caminho da felicidade por ela. Super-mulheres
que tudo podem e tudo conseguem, princesas que precisam de ser salvas por
príncipes e beleza que não envelhece, são mitos que fazem mal à felicidade.
Gloria Steinmen, escritora, jornalista e conhecida feminista
americana disse, com muito sentido, que o futuro da mulher está em deixar de
fazer tudo: “Nós mulheres sabemos que conseguimos fazer o que os homens fazem,
mas ainda não sabemos que os homens podem fazer o que as mulheres fazem, e isso
é fundamental não se pode continuar a fazer os dois trabalhos.”
A fada do lar provou que pode deixar de ser a vítima mas
transformou-se num super - herói. Talvez agora tenha chegado a hora de simplesmente
ser pessoa…
Texto escrito por Paula Serpa – Terapeuta, Coach
e Formadora, responsável pelo projecto Ser Pessoa
Email:
paula.serpa@serpessoa.com
Saiba mais sobre os cursos e grupos de mulheres em www.serpessoa.com
Leitura sugerida: "Perdas e Ganhos" - Autora: Lya Luft
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Fontes:
* the United States General Social Survey (46,000
people, between 1972-2007); * the Eurobarometer analysis (636,000 people,
between 1973-2002, covering fifteen countries),*and the International Social
Survey Program (97,462 people, between1991-2001, covering thirty-five developed
countries.)
Comentário: Os meus agradecimentos à terapeuta Paula Serpa pela sua participação no Recuperar É Que Está a Dar. O seu texto é dedicado à mulher e vem expor o papel da mulher na nossa sociedade, e em especial, a importância da felicidade. Infelizmente, ainda teimam existir tradições, preconceitos e estereótipos, na cultura portuguesa, que condicionam e restringem a liberdade de expressão e o livre arbítrio, do qual, um numero significativo de mulheres precisa de desafiar, a fim de conquistar os seus direitos e responsabilidades a nível individual (por ex. felicidade, assertividade, honestidade, auto estima), da família, na comunidade e sociedade.
Em relação aos comportamentos adictivos, na minha opinião, quando a mulher se confronta com problemas de adicção sente vergonha e tende a negar a necessidade de receber ajuda, esta situação está relacionada com o estigma em termos culturais. À mulher não é permitido determinadas atitude e comportamentos, por exemplo, o abuso do álcool, o alcoolismo, e a dependência de substâncias psicoactivas são um problema dos homens. Por exemplo, infelizmente, achamos imensa graça e consideramos normal os homens "portarem-se mal" enquanto estão sob o efeito do álcool e ou de outras drogas. Às mulheres, não.
Facto: A adicção não escolhe géneros, mulher ou homem. Nem a mulher nem o homem escolhem ser adictos. Tanto um como o outro estão expostos e vulneráveis, nesse sentido, ambos merecem receber o mesmo tipo de tratamento, salvo de preconceitos e estereótipos.
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