quinta-feira, abril 12, 2012

O problema não é o álcool, são as pessoas.


No seguimento das recentes  declarações Secretario de Estado Adjunto e da Saúde, nos meios de comunicação social, sobre a prevenção, direccionada aos jovens, afirmou,  tem “falhado tudo” considero relevante abordar a questão do álcool e as pessoas.

Nunca é demais, relembrar que a nossa cultura promove e incentiva o consumo/abuso de bebidas alcoólicas, em jovens menores de idade. Vejamos os resultados do estudo do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT). De acordo com a referida notícia, no Jornal de Noticias, o estudo do IDT sobre o consumo de álcool, tabaco e drogas em meio escolar refere que os jovens portugueses começam a consumir álcool cada vez mais cedo, beber em maiores quantidades e a embriagarem-se mais vezes. Estes fenómeno, sobre os jovens beberem maiores quantidades e embriagarem-se mais vezes já motivo de investigação e medidas excecionais de prevenção, quer seja nos Estados Unidos da América (EUA) ou no Reino Unido há pelo menos dez anos ou mais, é designado de Binge Drinking (beber álcool cujo intuito é a intoxicação/embriaguez). Em Portugal, não existe Prevenção, por exemplo em relação ao binge drinking. Até há data da publicação deste post, ainda é permitido por lei, aos jovens menores de idade, consumirem/abusarem de bebidas alcoólicas com a conivência dos políticos, dos tribunais, da ordem dos médicos e dos advogados.

Segundo o mesmo estudo, efetuado pelo IDT, 37% dos alunos com 13 anos (menores de idade) já experimentou beber álcool, numero que sobe para 90,8% nos jovens com 18 anos. Depois destes dados, pergunto:

Na minha opinião pessoal, estes números são apenas a ponta do iceberg. Em algumas zonas remotas do país, tipo aldeias, não existe controlo sobre este fenómeno.


Perante esta realidade constrangedora, o que é que se tem feito, nos últimos 5 anos, para prevenir este problema?

Quais são os custos para o Estado?

Com a crise económica e social, quais as instituições e profissionais, que monitorizam o fenómeno do abuso do álcool (binge drinking)e do alcoolismo, em Portugal? Neste período conturbado, as previsões apontam para um aumento do consumo do álcool.

Sabia que o abuso do álcool e o alcoolismo é um problema de saúde pública, em Portugal? O álcool é uma droga. Porque é que todo o mundo, incluindo Portugal, se mobiliza na guerra contra as drogas ilícitas? Mas em relação ao álcool, o problema são os indivíduos que bebem, de uma forma irresponsável. A legislação portuguesa permite que a indústria do álcool, através da publicidade e de técnicas agressivas de marketing, obtenha lucro na venda dos seus produtos, cujo principal target são os jovens. Desporto e bebidas alcoólicas (publicidade) não se misturam.

Quais os efeitos práticos do lema “Seja responsável beba com moderação?”

Segundo algumas fontes, o consumo de bebidas alcoólicas tem aumentado em Portugal. No relatório do World Drink Trends de 1999 Portugal ocupa a segunda posição com o consumo anual de 11,2 litros de álcool per capita, depois do Luxemburgo. Sabia que no Luxemburgo vive um número considerável de emigrantes portugueses? Atualmente é a maior comunidade de estrangeiros neste país.

Como sabemos, o álcool, depressora do sistema nervoso central, , é das substâncias psicoactivas lícitas mais consumidas no Ocidente. Você sabia que o álcool é a mais destrutiva? Apesar de existir, no mundo, em especial nos países desenvolvidos informação disponível acerca da epidemiologia, historial e tratamento do abuso do álcool e do alcoolismo aparenta existir uma tendência, em Portugal, para negligenciar e negar os efeitos do abuso do álcool e do alcoolismo entre os jovens, em particular, e na população, em geral. Ainda persiste o estigma, a negação e a vergonha, entre profissionais, instituições, famílias, incluindo as crianças, e nas comunidades (sociedade) associados ao abuso do álcool e do alcoolismo. Sabia que até aos anos finais dos anos 70 um número significativo de crianças era alimentado, às refeições, por vinho? Inacreditável e desumano. Hoje já se sabe que o álcool afeta e modifica o funcionamento normal das estruturas do cérebro (dopamina). Podemos imaginar, casos de crianças que se tornaram adultos, que toda a vida, beberam álcool. Pessoalmente, conheci alguns casos dramáticos. Estes indivíduos, não concebem a vida sem “beber um copito.”

Há aproximadamente 20 anos atrás, de acordo com a minha experiencia, a maioria dos indivíduos, admitidos em tratamento em regime residencial de tratamento, que apresentavam sintomas de abuso do álcool e/ou do alcoolismo era indivíduos na casa dos 50/60 anos. Passado uma década, estas características vieram a sofrer uma alteração, os sintomas de abuso do álcool e/ou do alcoolismo surgiam em indivíduos com 30/40 anos. Aquilo que identificamos era um consumo excessivo e precoce ( entre os 13/14 anos) de ingestão de bebidas alcoólicas ou casos de binge drinking, jovens que bebiam, por exemplo aos fins-de-semana, com o intuito de ficarem embriagados.

O alcoólico tanto pode ser um operário como um executivo que alterna entre períodos de abstinência com períodos que ingestão alcoólica, compulsivamente. É frequente, entre alcoólicos, deslocarem-se a clinicas e/ou médicos, e permanecerem abstinentes durante um período curto de tempo, para depois voltarem a abusar do álcool. Depois voltam novamente, às clinicas e aos médicos, para retomar o mesmo tratamento. Alguns indivíduos permanecem neste círculo vicioso durante décadas. Alguns indivíduos afirmam “Consigo parar de beber e permanecer abstinente durante um tempo. O problema surge, com a bebida, começa quando começo a beber. Não consigo parar. Perco completamente a noção dos limites e da quantidade de líquido que sou capaz de suportar. Tenho alterações bruscas de humor. Fico agressivo. Ninguém me pode dizer nada, desconfio de toda a gente.”

Quadro: História do alcoolismo no individuo:
1. Idade da primeira ingestão de álcool (12 -14 anos).
2. Primeira intoxicação (14-18 anos).
3. Problemas menores devido ao álcool (18-25 anos).
4. Inicio dos problemas graves (23-33 anos).
5. Início do tratamento (40 anos).
6. Possível morte - causa; ataque cardíaco, acidentes, suicídio, cancro (55-60 anos)
7. Ao longo da história do alcoolismo a abstinência altera com períodos de ingestão.

* Quadro adaptado do livro de Marc A. Schuckit  "Abuso de álcool e drogas" - Editora Climepsi

Se é jovem eis algumas dicas para o consumo moderado de bebidas alcoólicas:
1. Identifique o seu limite.
2. Enquanto bebe acompanhe com alimentos.
3. Saboreie, calmamente, a sua bebida.
4. Não participe em "campeonatos" a ver quem bebe mais.
5. Beba só aquilo que você pretende; não aceite que sejam os outros a decidir quanto é que bebe.
6. Experimente outras bebidas não alcoólicas.
7. Se está a tomar medicamentos evite a ingestão de bebidas alcoólicas e fale com o seu médico.

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