quarta-feira, setembro 19, 2018

Presos um ao outro, sem soluções



“Foi com muito gosto que fiz a partilha. Fui codependente numa relação que durou alguns anos. O meu ex e já falecido marido, era toxicodependente e alcoólico e eu não conseguia libertar-me das amarras emocionais que me prendiam a ele. Só quando engravidei, o meu filho é que reuni forças para acabar definitivamente com a relação. Até então, eu não vivia, só sobrevivia, mas com o nascimento do meu filho, renasci de novo apesar de ainda restarem sequelas e traumas que por vezes afloram e se manifestam sob a forma de depressões. Mas hoje sou mais forte, gosto de mim e da minha própria companhia.  Por tudo isto, sinto-me muito feliz quando de algum modo, ajudo a quem sofreu ou sofre de dependências. Abraço, Maria (nome fictício)"

Comentário: Obrigado Maria, pelo seu relato e parabéns por ter redirecionado a sua vida, para melhor.

Nos últimos anos, as notícias de violência doméstica, oriunda da co dependência, têm servido de manchete nos media, com vítimas inocentes. É um fenómeno transversal na sociedade, todos nós sabemos da sua gravidade, mas algumas tradições culturais disfuncionais ainda teimam em resistir, por exemplo, o ditado popular, “entre marido e mulher, ninguém mete a colher”. Para agravar mais o cenário, já de si trágico, as consequências da violência doméstica, afeta e alastra a todos os membros da família, incluindo os filhos e restante família. Crianças e/ou jovens que perdem os pais nas circunstâncias mais trágicas e eles próprios vítimas do trauma, do estigma e a da vergonha. Alguns deles, na idade adulta, vão ter relacionamentos com parceiros em que a violência fará parte da herança familiar.


O que é a co dependência? Desde os anos 70, procura-se uma definição da co dependência, principalmente entre profissionais nos EUA. Isto significa que este dilema vem complicar aquilo que deveria ser de fácil compreensão. Este termo surgiu em Portugal, no final dos anos 80, com o início dos grupos de ajuda-mútua dos 12 Passos. Na minha experiência profissional, a co dependência surge no universo dos relacionamentos de intimidade; evoca-se o amor, para justificar o desamor, o drama, o controlo, a ausência da comunicação, o ressentimento, o conflito e o sentimento de culpa, a falta de limites e a violência. A co dependência manifesta-se no campo dos afetos e dos vínculos sem limites e disfuncionais. A co dependência não é amor, o individuo co dependente, desenvolve uma relação, cujos limites saudáveis não existem, e sente-se impelido a controlar o outro individuo, igualmente perturbado (Por exemplo, comportamentos adictivos - dependente de drogas, álcool, jogo patológico, sexo compulsivo). Nestes casos, o co dependente pratica o controlo e empenha-se seriamente, em manter o outro em posição de vítima, para assim, conseguir resgata-lo e/ou persegui-lo; não conseguem viver, um sem o outro, não existe o direito à individualidade. Este melodrama constante na relação é sinonimo de dependência e revela-se disfuncional a médio/longo prazo. Por exemplo, agressividade, ressentimento, depressão, manipulação, jogos psicológicos, dependência emocional e/ou violência doméstica. Apesar da co dependência surgir, com mais frequência, nas mulheres, também existem homens co dependentes.

Todos nós, idealizamos um relacionamento de intimidade, com um parceiro/a carinhoso/a, romântico, honesto, de confiança e meigo/a, e porque é que algumas pessoas se sentem atraídas por indivíduos, que mais tarde, se revelam desconfiados, agressivos, controladores, egoístas e violentos? Quem resiste ao jogo da sedução e da conquista? Quem resiste ao canto do cisne? Quem é que resiste ao apelo da sereia? Na co dependência, como acontece em outras dependências, é possível recuperar.

Leituras recomendadas. “Vencer a Co dependência” Melody Beattie ou “Será Amor ou Dependência” Brenda Schaeffer

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