- “Slaying the Dragon – The History of Addiction Treatment and Recovery in America” – William White, 1998, 4ª Edição. A Chestnut Health Systems Publication
- “The Evolution of the Multidisciplinary Approach to Addiction Recovery – The Minnesota Model” – Jerry Spicer, 1993. Hazelden Foundation
- “Hazelden – A Spiritual Odyssey” Damien McElrath, Ph D. Hazelden Foundation
- "Project Match – Monograph Series” National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA), 1989
sexta-feira, dezembro 14, 2012
Algumas curiosidades sobre o Modelo Minnesota (MM)
Durante a minha formação profissional tive o privilégio de
estar presente numa das instituições mais reputadas do mundo, sobre o
tratamento das dependências de substâncias psicoativas, vulgo drogas, incluindo
o álcool, refiro-me obviamente a Hazelden Foundation.
Nesse sentido, decidi escrever este post de forma a revelar algumas das características do Modelo Minnesota;
a sua génese, a filosofia e a sua história. Para os menos informados este
modelo de tratamento é aplicado num regime de internamento residencial tratamento
cuja duração é de 90 dias, aproximadamente.
Aproveito para enaltecer a dedicação e o compromisso de
algumas pessoas genais e visionários,
durante o final dos anos 40, nos EUA, que dedicaram uma parte considerável das
suas vidas a ajudar indivíduos a recuperar a sua dignidade e a recuperação da
adicção. Lutando contra o estigma, a negação e a vergonha associados a esta
doença.
Com este post não
pretendo fazer uma abordagem completa e exaustiva deste modelo de tratamento,
apenar pretendo salientar e revelar alguns detalhes sobre a sua historia e
pessoas.
Para pensarmos no tratamento do alcoolismo e a génese do modelo
Minesota precisamos de recuar até ao final dos anos 40, marcado pelo período
pós-guerra (II grande guerra mundial), a segregação social, o tratamento do
alcoolismo com uma forte vertente religiosa (evangelização) os asilos para
doentes mentais e cadeias. Nesta altura ainda não existia o DSM, Manual
de Diagnostico de Doenças Mentais, que só surgiu em 1952, nos EUA.
Modelo Minnesota “Uma
abordagem evolucionária e multidisciplinar na Recuperação da Adicção.” Jerry Spicer, Presidente Hazelden Foundation,
Minnesota, EUA (1949 a 2011)
Génese – Instituições
envolvidas (Minnesota Model)
1948 - Pioneer House (filosofia do tratamento dos Alcoolicos Anonimos, AA) era designado, na altura, como um clube/associação, onde surge o primeiro
membro de AA e a primeira figura do Addiction Counselor (1949) como profissão,
em colaboração com o Serviço de Saúde Publica de Minneapolis, EUA
1949 - Hazelden (filosofia do tratamento do AA)
1950 - Hospital State Wilmar – departamento de psiquiatria
(equipa de profissionais cuja abordagem ao tratamento foi inovadora contando também
com introdução da filosofia do AA).
Tratamento Residencial em Regime de Internamento
• Consiste
no processo que inicia quando indivíduo contacta um serviço (Instituição) com
vista a uma sucessão de intervenções específicas até se atingir o nível de bem-estar
– Avaliação, Admissão, Diagnostico, Plano de Tratamento personalizado e Recuperação
duradoura.
• Reduzir
ou eliminar problemas associados às substâncias psicoativas lícitas e/ou
ilícitas, incluindo o alcool.
• Reabilitação
dos problemas relacionados com as substâncias (diagnostico, assistência, aconselhamento,
participação da família, saúde e integração social).
Ligação entre Tratamento do Alcoolismo, o AA e o Modelo Minnesota
• Número
significativo de indivíduos que atingiram a sobriedade através do AA, nos EUA, a
visibilidade pública, por exemplo através dos meios de comunicação social e
algumas estrelas de cinema, músicos famosos, senadores, políticos em
recuperação a assumirem publicamente a preferência pela filosofia do programa
de 12 Passos.
• Em
1935/existiam 100 Membros do AA,
em 1942/800 membros.
• Pessoas
genais e visionárias envolvidas no tratamento do alcoolismo – Mel Rosen, Nelson
Bradley, Daniel Anderson, Rev John Keller , o filantropo John Rockefeller
Junior e a família Butler.
Filosofia do
Tratamento MM - anos 50
• Alcoolismo:
doença progressiva e crónica. Multidimensional: física, psicológica, social e
espiritual.
• Alcoolismo:
doença crónica e primária; não é um sintoma de outra doença subjacente vs.
Tratar da personalidade do alcoólico.
• A
presença ou a ausência da motivação, no início do tratamento, não tem
influência no resultado final.
• O
sucesso do tratamento exige uma atmosfera na qual o alcoólico/adicto seja
tratado com dignidade e respeito.
• Os
alcoólicos/adictos são vulneráveis ao amplo espectro das mais variadas
substâncias psicoactivas. O fenómeno, Dependência de Substâncias,
deve ser abordado em tratamento.
• A
abordagem à dependência de substâncias terá mais sucesso se a equipa de
profissionais desenvolver um tipo de relacionamento menos formal, mais “intimo”
com os pacientes, cujas atividades estão integradas num plano individualizado de
tratamento desenvolvido para cada paciente.
• Para
a execução do plano de tratamento designa-se um conselheiro – figura do gestor
do caso.
• Durante
o tratamento inclui a participação nos AA (reuniões), trabalhar os Passos,
terapia de grupo que combine a confrontação e o apoio, palestras, sessões
individuais de aconselhamento e um ambiente dinâmico (cultura - Milieu)
de responsabilização e aprendizagem.
• O
AA é a estrutura mais viável após o internamento (follow up) para a
Recuperação duroura/Sobriedade.
Minnesota Model- “Milieu” profissional
• Abordagem
Holística – Poder da experiência espiritual para a Recuperação através dos
grupos de ajuda mutua A.A. assume um papel preponderante na abordagem. “Se o
outro consegue eu também consigo”
• Etiologia
da doença vs. Programa de Recuperação “Onde não arranha, não se coça”
Daniel Anderson . Mais importante que a causa, os objetivos de recuperação (12
Passos) são uma prioridade, através da motivação para a mudança de comportamentos.
• Equipa
Multidisciplinar - Abordagem multidimensional à doença (medicina, psicologia,
clero e addiction counselors).
• Adictos
em Recuperação (Addiction Counselors, 1954) Nova designação profissional.
• “O Alcoolismo requer dois tipos de
conhecimento: cientifico e experiencia. Existem dois tipos de escolhas
disponíveis - Dinâmica Integradora vs. Polarização Auto Destrutiva .”
Daniel Anderson. Fusão da ciência, da teoria e da componente empírica.
Difusão do Modelo
Minnesota nos EUA, desde os anos 60.
• Alcoólicos
Anónimos e Narcóticos Anónimos
• Conferências
e cursos profissionais nas Universidades de Yale e Rutgers (1960/1990)
• Campanhas
nacionais através do Conselho Nacional Alcoolismo, (NCA). Marty Mann, co
fundadora do NCA, foi a primeira mulher, pertencente ao AA, a permanecer em
recuperação durante um longo período de tempo.
• Estágios
e Formação profissional, em Hazelden.
• Ex
colaboradores do Hospital de Wilmar State.
• Project Match , 1989 – Estudo (5 anos), que
contemplou e aprofundou a eficácia e vantagens “emparelhamento” da Terapia Cognitiva-Comportamental,
da Twelve Step Facilitation (oriunda do MM) e Motivational Enhancement Therapy
no tratamento do alcoolismo.
•
Na
Europa - Broadway Lodge, Inglaterra, 1974 (Dr. James Ditzler and Joyce
Ditzler)
Modelo de Tratamento
(Internamento)
• Dependentes
de substâncias, incluindo o álcool.
• Conceito
de doença
• Duração
da primeira fase de tratamento 60/90 dias. Caso se prolongue o tratamento o
paciente deve mudar de setting terapêutico.
• Abstinência
de Substâncias psicoativas
• Educação
s/ Alcoolismo – Sintomas físicos e psicológicos. Ambiente livre de drogas
• Palestras
e Terapia de Grupo (dinâmicas).
• Envolvimento
no AA (Espiritualidade).
• Aftercare – Pós tratamento.
Génese em Portugal
• Alcoolicos Anónimos, Alcoolicos Anónimos1978
• Narcoticos Anónimos Narcóticos
Anónimos, 1985
• Portugal,
Lisboa (projeto piloto) – Unidade de Tratamento Intensivo de Toxicodependências
e Alcoolismo (UTITA, 1985) no Serviço de Psiquiatria do Hospital da
Marinha
• Era
- Empatia, Recuperação e Apoio (1990) através do Dr. Margalho Carrilho, Joana
Faria e Cristina Mello
• Fundação
Frei Manuel Pinto da Fonseca (Centro Tratamento São Fiel, 1992/2004), em
Castelo Branco. Ao longo da sua existência apoiou mais de 3.000 pacientes. Instituição
pioneira nos programas de apoio aos familiares dos seus pacientes, formação
continua e supervisão dos seus colaboradores/profissionais.
Apesar do Modelo Minnesota ser uma das referencias mundiais
no tratamento das dependências, incluindo o alcoolismo, e do qual eu comprovo a
sua validade, não pretendo ser dogmático, porque pela minha experiencia,
algumas pessoas não se adaptam à sua filosofia. Nesse sentido, cada um é livre em
escolher o melhor tratamento e os melhores profissionais que o/a possam ajudar
na interrupção da progressão ativa da doença da adicção; doença cronica,
progressiva e caso não seja interrompida poder ser fatal. Estamos perante uma
doença complexa.
Mais recentemente, durante o final dos anos 80, surgiu outra
denominação, oriunda do Modelo Minnesota, designada de Twelve Step Facilitation. Esta designação é utilizada no Project Match
Depois de colaborar com varias instituições, gostaria de
acrescentar que o Modelo Minnesota em Portugal, apesar de existir desde 1985,
ainda está numa fase embrionária e a necessitar de uma atualização urgente, ao nível
da formação profissional, plano de tratamento, respeito pelos seus pacientes e
familiares, equipas de profissionais multidisciplinares dedicados e
comprometidos pelas suas carreiras, supervisão e código de ética, criação de
uma associação nacional que zele pelos interesses e características do modelo
em si, partilha de experiencias entre profissionais por exemplo através de
congressos, redes sociais, etc. Apelo aos profissionais e instituições que
utilizem o MM que invista mais na colaboração, cooperação e partilha de conhecimento,
no final, os nossos pacientes, as suas famílias e a comunidade vão beneficiar muito
mais, abram as portas ao conhecimento e à excelência, é um investimento de inestimável
valor.
Também gostaria de informar que o Modelo Minnesota não tem
qualquer ligação institucional ou profissional com os grupos de ajuda mútua dos
12 Passos, por exemplo Alcoólicos Anónimos, Narcóticos Anónimos, Jogadores
Anónimos. Por exemplo, oiço com muita frequência pessoas a afirmar que “O
centro onde o meu filho está internado é dos Narcóticos Anónimos”, isso é
falso. De acordo com estes grupos de ajuda-mutua os seus membros não são
profissionais, não possuem instalações para internamento ou não existe a figura do profissional que faz terapias/consultas. Estes indivíduos ajudam-se uns aos outros recorrendo á sua experiencia e partilha pessoal através
do programa dos 12 Passos, a participação de qualquer individuo, nos grupos de ajuda mutua, é voluntaria e
livre de qualquer cota ou pagamento. Consulte mais nas tradições de Alcoólicos Anónimos
ou Narcóticos Anónimos. Caso tenha alguma duvida envie a sua questão para xx.joao@gmail.com
Referências bibliográficas:
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