quinta-feira, junho 02, 2011
Distúrbio Alimentar em “Piloto Automático”
Desde muito cedo aprendemos que o tempo útil disponível aparenta
ser insuficiente. Todos nós vivemos num corrupio diário, capaz de gerar emoções
muito dolorosas (stress), como se o
nosso bem-estar e a qualidade de vida dependessem disso e andamos uma parte
muito significativa das nossas vidas sempre ocupados e preocupados com as
contas, com os estudos, com o trabalho, com os pais, com os filhos, com a
alimentação, com as compras mais variadas e as arrumações, com o patrão, com o
emprego, com a mulher/marido, com a empresa, com as dietas, com o exercício
físico e a imagem, com a saúde, com a casa, com o dinheiro, com a família, com
o/a parceiro/a, com o sucesso e o prestigio, com a perfeição e o controlo
(poder), com a falta de tempo, mas também acontece, por irónico que seja, quando
não estamos ocupados também ficamos preocupados. A vida é difícil.
Progressivamente, vamos acumulando e sobrecarregando a nossa
limitada agenda com tarefas e/ou compromissos urgentes e importantes. Na
maioria dos casos, tudo é urgente, para ontem de preferência. Através deste
tipo de comportamento problema podemos ficar vulneráveis e expostos à adversidade e/ou à
doença, por ex. comportamentos adictivos
(substâncias licitas, incluindo o álcool, as ilícitas, o jogo, o sexo, o
distúrbio alimentar, as compras compulsivas, o shoplifting. Determinados atitudes
e comportamentos geradores de desconforto podem despoletar o mecanismo (ex.
prazer, bem estar, procura do alivio do sofrimento e/da apatia, do
aborrecimento, da depressão ou da ansiedade) que supostamente nos protege da
dor (tipo efeito amortecedor) mas na realidade e progressivamente, conduz-nos
no sentido contrario, da dependência e mais sofrimento.
O Auto controlo e o “Piloto Automático”
O que significa “Piloto
Automático”? São aqueles indivíduos, homens e mulheres, incluindo os jovens, que
andam sempre super ocupados, são óptimos profissionais ou excelentes estudantes,
são considerados uns bons pais ou bons filhos, são pessoas admiradas pelo seu auto
controlo e uns excelentes desportistas (alguns de alta competição), são apreciados
pelas suas competências por ex. conseguem trabalhar das 8 às 5, depois, das 18h
às 20h frequentam um curso intensivo ou pós-graduação e ainda lhes resta tempo
para ir ao ginásio. Estes indivíduos aparentam ser indivíduos competentes, dinâmicos,
inteligentes e ambiciosos todavia as aparências iludem porque escondem algo que
os atormenta profundamente e os enclausura mas que não é revelado. Por baixo
desta aparência (concha) são portadores de um distúrbio alimentar (anorexia,
bulimia e/ou compulsão alimentar). Recordo vários casos, por ex. uma mãe que
afirmava incrédula e desesperada quando a filha, de 28 anos, foi parar à urgência
do hospital "Não acredito...não é possível que a minha filha esteja doente.
Ela nunca nos deu problemas, sempre foi uma filha bem comportada e super
responsável e saudavel. Uma estudante brilhante."
O distúrbio alimentar ainda é uma doença silenciosa e complexa. Há uns
anos atrás existia um determinado estereótipo em relação a este tipo de distúrbio.
Por ex. era uma pessoa do sexo feminino, etnia branca, caucasiana, geralmente o
primogénito ou filho único, empreendedor de alta sociedade e de uma família
abastada. Este estereótipo prejudicou o diagnóstico e o tratamento, assim como,
a pessoa doente e a sua família, mas felizmente, sofreu uma transformação. Hoje
sabemos que é um fenómeno transversal na nossa sociedade, que a negação do
problema intensifica os sintomas da doença e que a parte genética também pode
estar relacionada com a vulnerabilidade da pessoa à doença. Existe em culturas
diferentes, raça, etnia, classe social e religião. As consequências físicas da
doença do comportamento alimentar são devastadoras. Inclui anemia,
infertilidade, problemas intestinais e perda de cálcio e 90% dos indivíduos estão
vulneráveis à depressão. Quando mais cedo se detectar os sintomas, os problemas
de saúde podem ser reversíveis. Boas notícias, é possível inverter a progressão
e viver com a doença, existe a esperança e a recuperação.
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