Consequências da Adicção: Durante os intervalos ou a hora do almoço a Teresa rouba dinheiro dos gabinetes dos seus colegas. Todavia, recebe um ordenado mensal acima da media, a rondar os 2.500 €. Quando vai às compras às lojas, afirma para si mesma, através de promessas e juras, que não vai roubar nada, porque não precisa e o risco de ser “apanhada” é elevado, mas quando fica exposta aos artigos nas prateleiras, longe dos olhares, não resiste ao desejo irresistível e poderoso. Gasta mais de metade do orçamento da casa em compras (roupas, sapatos, perfumes). Segundo afirma, o marido, engenheiro civil, suspeita de algo, mas é um assunto que não se aborda. Um dia, foi às compras, ao supermercado, com o filho e num dos corredores não resistiu a roubar um artigo, às escondidas, todavia à saída o segurança convidou-os a ir uma sala para ser revistada, desesperada, implorou ao segurança que devolvia o artigo roubado para que o filho presencia-se. O segurança acedeu ao pedido. Nos encontros sociais esta família aparenta felicidade e união.
sexta-feira, novembro 19, 2010
Adicção: Vidas Duplas Repletas de Singularidade e Secretismo
A maioria dos adictos às substancias psicoactivas (licitas
e/ou ilícitas) e/ou comportamentos (jogo, relações, sexo, distúrbio alimentar,
shoplifting) permanecem “presos à teia” da Adicção apesar das consequências
nefastas e clinicamente significativas, no seu dia-a-dia, (por ex. negação,
vergonha, medo, sentimentos de culpa, ressentimentos) isto é, perdem o controlo
nas mais variadas áreas da sua vida ex. família, trabalho, saúde, problemas
legais ficando assim limitados na ajuda disponível.
O que é que mantém os adictos/as doentes?
Gostaria de expor alguns casos e explorar os factores que
contribuem para a progressão da doença, para a alienação de valores e o desfasamento
entre a realidade e a Adicção. A Adicção é uma doença. A maioria dos adictos
reconhece que algo está errado, todavia censura os sinais evidentes do
desgoverno recorrendo a todo um conjunto de mecanismos psicológicos que o
mantém doente e centrado no prazer imediato, no isolamento, na obsessão e
compulsividade e na ilusão do controlo. Muitos afirmam “Eu sei que estou mal, Mas…”
O que é que mantém
estes indivíduos doentes e disfuncionais ao invés de pedir ajuda? São imensos
os factores e aqueles que gostaria de realçar é a Negação, a Vergonha e o
Estigma associado ao comportamento adictivo.
Qualquer semelhança com estes casos é pura coincidência. Os
dados destas pessoas foram alterados.
Carlos. 47 Anos, casado
e com 2 filhos. Adicto ao jogo. Profissão: Gerente Bancário.
Consequências da Adicção.
O Carlos joga no casino com o dinheiro do seu ordenado (totalidade), com o
dinheiro da esposa, e por vezes aquele que é para pagar despesas da casa e da
escola dos filhos. Através de um esquema fraudulento e falsificação utiliza o
dinheiro de três clientes do banco. A mulher do Carlos, desesperada, adopta o
silêncio, mantendo secreto a doença do marido com receio de represálias e que
este a abandone. A mulher e o Carlos acumulam dívidas no total de 16mil euros. Os
pais do Carlos assim como os sogros ignoram a Adicção ao jogo. Os filhos do
casal têm problemas no rendimento escolar (agressividade e impulsividade). Nos
encontros sociais esta família aparenta felicidade e união.
Júlia 33 anos, solteira,
Distúrbio Alimentar. Profissão: Professora de Educação Física
Consequências da Adicção.
Vive com os pais. Não tem tempo para comer, isto é, só toma o pequeno-almoço (iogurte
magro e uma peça de fruta), não almoça e no final do dia, quando regressa a
casa, está esfomeada onde ingere alimentos altamente calóricos (ex. doces,
fritos e salgados). Por vezes adopta o jejum provocado e prolongado onde só
ingere líquidos. O assunto da comida é a sua principal preocupação diária
(obsessão), o que vai comer, quando vai comer. Sofre oscilações drásticas de
humor, por exemplo depressão. Desde os 18 anos que faz dietas restritivas. Após
períodos de fome e privação adopta comportamentos compulsivos (ex. binge,
voracidade e empanturrar-se) e depois provoca o vómito (purgação). Sente medo
(pânico) de engordar, considera que está muita gorda e utiliza o exercício
físico, excessivo, para não engordar. Nos encontros sociais aparenta ser uma pessoa
saudável, pelo seu aspecto físico, e que trata bem da sua saúde a nível da
nutrição.
José 40 anos, casado
com 3 filhos, Adicto ao Sexo. Profissão: Medico.
Consequências da Adicção.
Na rua, no trabalho, no ginásio, nas viagens o sexo é uma preocupação intensa e
diária. A esposa tem conhecimento da adicção do José, afirma manter-se na
relação por causa dos filhos. Já não existe relação sexual entre ambos há dois
anos. O José justifica o seu “problema” afirmando que como não tem sexo em casa
precisa de recorrer a outras mulheres. Mantém assédio sexual prolongado a duas
doentes no seu consultório, onde culminou com uma relação sexual com uma delas.
Grande parte do seu tempo livre dedica à pornografia na Internet, sites de
relacionamentos onde gasta centenas de euros/mês e masturbação frequente (10
vezes por dia) no consultório e em casa. Mantém uma relação paralela há 3 anos
com uma prostituta. Sofre de ansiedade, depressão e automedica-se com
tranquilizantes. A mulher procura, ansiosamente, ocultar a adicção do pai aos
três filhos e ao resto da família. O José não tem tempo disponível para a sua
família. Nos encontros sociais esta família aparenta felicidade e união.
Maria 35 anos, solteira, Adicta às drogas lícitas
e ilícitas. Profissão: Advogada
Consequências da Adicção:
Usa cocaína durante o dia, afirma que assim consegue manter a concentração para
o trabalho e à noite abusa do álcool. Para dormir toma tranquilizantes
(benzodiazepinas) receitado pelo medico de família. A Maria rouba dinheiro aos
seus colegas no escritório. O seu humor sofre oscilações entre ansiedade e depressão.
Tem vários processos, movidos por clientes, na Ordem dos Advogados. Diariamente
conduz a sua viatura sob o efeito de drogas e/ou álcool. Os pais da Maria,
consideram que o problema das drogas tem a ver com o estilo de vida stressado
da filha, sendo assim, a Maria conseguiu pedir aos pais aproximadamente 20 mil
euros, ao longo do último ano, para a sua dependência. Nos encontros sociais
aparenta ser uma pessoa divertida e confiante.
Xavier 50 anos,
casado com 5 filhos. Adicto ao álcool. Profissão: Politico.
Consequências da Adicção.
Negligência a educação dos filhos porque não têm paciência e ou disponibilidade
emocional, ex. depressão. O Xavier toma antidepressivos, receitados pelo seu
médico, de forma a atenuar, sem efeito, os efeitos do alcoolismo. Já não dorme
no mesmo quarto que a mulher. Por vezes a esposa do Xavier encontra garrafas
escondidas na garagem ou na arrecadação e no sótão. Os filhos raramente levam
os amigos a casa para evitar problemas e evitarem sentirem embaraço por causa
do estado avançado de embriaguez do pai. Na família do Xavier não se fala sobre
o alcoolismo. Como não bebe durante o dia, com receio de perder o controlo no
escritório, aguarda ansiosamente para chegar à noite casa e beber sozinho,
segundo afirma, para relaxar da pressão diária demasiado excessiva. Esta
família evita o convívio porque o Xavier fica embriagado expondo a esposa e os filhos
a situações demasiado embaraçosas. Por vezes, o Xavier conduz sob o efeito do
álcool. Nos encontros sociais esta família aparenta felicidade e união.
Isabel 32 anos. Solteira.
Profissão: Enfermeira. Relação de dependência (Codependência)
Consequências da Adicção:
Vive com os pais e namora com Artur, um
adicto às drogas ilícitas há quatro anos, que está desempregado há dois
anos. Oculta a adicção do namorado à
família e amigos. Apesar de ter um ordenado razoável chega a meio do mês já não
tem dinheiro porque é todo para o consumo das drogas lícitas e ilícitas do
Artur. Acumula dividas para conseguir suportar as despesas. Ao longo da vida, a
Isabel, procurou estar disposta a reparar os danos nas vidas das outras pessoas,
como algo perfeitamente normal, todavia negligência, sacrifica as suas
necessidades e não expõe os seus sentimentos/emoções dolorosas e crises às
outras pessoas (necessidades emocionais). Sofre de ansiedade, isolamento,
cansaço, baixa auto-estima e dificuldades em impor e respeitar limites nos
relacionamentos. Qualquer problema na família a Isabel assume as
responsabilidades e os falhanços, sozinha. O pai da Isabel foi alcoólico
durante 40 anos e a mãe foi uma pessoa passiva e negligente. A Isabel
considera-se uma vítima da doença alheia e não sabe como interromper este
comportamento disfuncional. No pouco tempo que resta ainda faz voluntariado em
instituições de caridade. Nos encontros sociais aparenta ser uma pessoa altruísta,
disponível e dedicada a ajudar o próximo.
Teresa 40 anos.
Casada com um filho. Profissão: Engenheira química. Adicta shoplifting (Roubo)
e Compras.
Consequências da Adicção: Durante os intervalos ou a hora do almoço a Teresa rouba dinheiro dos gabinetes dos seus colegas. Todavia, recebe um ordenado mensal acima da media, a rondar os 2.500 €. Quando vai às compras às lojas, afirma para si mesma, através de promessas e juras, que não vai roubar nada, porque não precisa e o risco de ser “apanhada” é elevado, mas quando fica exposta aos artigos nas prateleiras, longe dos olhares, não resiste ao desejo irresistível e poderoso. Gasta mais de metade do orçamento da casa em compras (roupas, sapatos, perfumes). Segundo afirma, o marido, engenheiro civil, suspeita de algo, mas é um assunto que não se aborda. Um dia, foi às compras, ao supermercado, com o filho e num dos corredores não resistiu a roubar um artigo, às escondidas, todavia à saída o segurança convidou-os a ir uma sala para ser revistada, desesperada, implorou ao segurança que devolvia o artigo roubado para que o filho presencia-se. O segurança acedeu ao pedido. Nos encontros sociais esta família aparenta felicidade e união.
Consequências da Adicção: Durante os intervalos ou a hora do almoço a Teresa rouba dinheiro dos gabinetes dos seus colegas. Todavia, recebe um ordenado mensal acima da media, a rondar os 2.500 €. Quando vai às compras às lojas, afirma para si mesma, através de promessas e juras, que não vai roubar nada, porque não precisa e o risco de ser “apanhada” é elevado, mas quando fica exposta aos artigos nas prateleiras, longe dos olhares, não resiste ao desejo irresistível e poderoso. Gasta mais de metade do orçamento da casa em compras (roupas, sapatos, perfumes). Segundo afirma, o marido, engenheiro civil, suspeita de algo, mas é um assunto que não se aborda. Um dia, foi às compras, ao supermercado, com o filho e num dos corredores não resistiu a roubar um artigo, às escondidas, todavia à saída o segurança convidou-os a ir uma sala para ser revistada, desesperada, implorou ao segurança que devolvia o artigo roubado para que o filho presencia-se. O segurança acedeu ao pedido. Nos encontros sociais esta família aparenta felicidade e união.
Como é que podemos entender as consequências negativas da
Adicção?
O sofrimento que o Carlos, a Júlia, o José, a Maria, o
Xavier, a Isabel e a Teresa sentem é o mecanismo que despoleta o desejo irresistível
de voltar a actuar no prazer imediato, apesar das consequências negativas. Esta
oscilação do humor proporciona a ilusão de ter saciado uma necessidade.
Qualquer ser humano quando está em dor procura atenuar esse sintoma, todavia
nos indivíduos adictos (re) agem com base na sua dependência.
Para o indivíduo doente, enfrentar a realidade perante si
mesmo e as outras pessoas é algo da qual vai perdendo competências e recursos,
paralelamente ao agravamento dos sintomas. Não permite críticas ou opiniões em
relação aos seus comportamentos. Aquilo que o mantém doente é a vergonha, a
negação, a fantasia - lógica adictiva, o isolamento, agir nas emoções e controlar
(acting out), medo, ressentimentos desmedido impedindo-o de interromper a
progressão da doença e iniciar a sua recuperação (Ciclo Vicioso). É preferível
manter o comportamento problema, alimentando a ilusão do controlo e agindo no
prazer imediato, do que revelar e enfrentar a realidade dolorosa (Vida Dupla).
Na maioria dos casos, a progressão da Adicção só é possível interromper através
de uma intervenção com o apoio da família.
“Podemos conduzir um cavalo para dentro de agua, mas não
conseguimos obriga-lo a beber.”
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