quarta-feira, agosto 22, 2007

Vergonha Tóxica no âmago da Adicção

"A Vergonha Tóxica" pelo Reverendo Leo Booth e o Dr John Bradshaw

Sou a Vergonha Tóxica
"Qualquer tipo de abuso nas relações de intimidade “alimenta” a Vergonha Tóxica – “alimenta-se” do sentimento de inadequação e da rejeição, da debilidade e do desconforto, incapaz de valorizar as potencialidades e habilidades pessoais e única. O auto conceito é distorcido pela Vergonha Tóxica.
A Vergonha Tóxica é superior à culpa. Com a culpa, você fez algo errado, mas consegues reparar o dano. Consegue desenvolver competências cognitivas e emocionais e superar o dano provocado, através de reparações concretas.
A Vergonha Tóxica significa que existe algo está errado dentro de si, não é possível fazer nada para modificar isso, é intrínseco. Você considera, seriamente, que é uma pessoa inadequada e “defeituosa” por natureza, na sua condição humana. A Vergonha Tóxica é o núcleo da “ferida” no “coração" da criança.
Recentemente, uma meditação poderosa foi revista, originalmente escrita por Leo Booth que realça alguns dos aspectos da Vergonha Tóxica, explorado no livro de John Bradshaw “Healing the Shame That Binds You.”


“O meu nome é Vergonha Tóxica

Já existia durante a tua concepção,
Nas hormonas da vergonha da tua própria mãe,
Sentes o meu fluido no ventre da tua mãe,
Cheguei mesmo antes de tu conseguires dizer a primeira palavra,
Antes de saberes que existias,
Antes de teres aprendido alguma coisa,
Cheguei quando aprendias a andar,
Quando te encontravas exposto e sem protecção,
Quando estavas vulnerável e a precisar de amor,
Antes que tenhas aprendido a criar quaisquer limites,
O meu nome é Vergonha Tóxica.”

“Cheguei quando tudo era inofensivo e mágico,
Antes de saberes que eu existia, já lá estava à tua espera,
Separei-te da tua genuinidade e da espontaneidade,
Perfurei-te até ao cerne da tua alma,
Fiz com que desenvolvesses sentimentos de imperfeição e inadequação,
Fiz com que desenvolvesses sentimentos de desconfiança, de malícia, em te sentires um idiota,
De insegurança e duvida, de insignificância e de inferioridade,
Fiz com que te sentisses diferente das outras pessoas,
Comprovei que afinal havia algo errado contigo,
Abalei as tuas crenças espirituais,
O meu nome é Vergonha Tóxica.”

“Existo antes de desenvolveres a tua consciência,
Antes da culpa,
Antes da moralidade,
Sou a tua principal emoção,
Sou a voz interior que segreda palavras de censura,
Sou o tremor e a inquietação interior que te atravessa sem que consigas qualquer tipo de reposta lógica,
O meu nome é Vergonha Tóxica.”

“Vivo no segredo,
Nas profundezas húmidas e escuras da depressão e do desespero,
Apareço sempre pelas costas, estou sempre pronta a humilhar-te quando te apanho desprevenido,
Sou indesejável, inconveniente e não sou “bem vinda”,
Fui a primeira chegar,
Já existia desde o principio de tudo,
Como Adão e Eva,
Sou “o assassino dos inocentes “,
O meu nome é Vergonha Tóxica.”

“Sou originaria de sistemas perfeccionistas e rígidos – controladores, oportunistas, de abuso, do ridículo, da negligencia e do abandono,
Sou alimentada pela intensa e chocante raiva parental,
Pela crueldade dos irmãos,
Sujeita à humilhação das outras crianças,
Sou um reflexo horrível ao espelho,
O contacto físico com os outros é algo assustador e “sujo”,
Sou a ignorante, a desajeitada e a idiota que estraga sempre tudo,
Sou fortalecida por uma cultura racista e sexista,
Como o inocente condenado pelo fanático religioso,
Sou os medos e pressões na escola,
Sou a hipocrisia dos políticos,
Os sistemas de multi-gerações da vergonha disfuncional
O meu nome é Vergonha Tóxica.”

“Consigo transformar uma mulher, um homem, um judeu, um preto, um gay, um oriental ou uma criança preciosa;
Num estorvo, numa falhada, numa vitima, numa inútil,
Trouxe comigo a dor crónica,
A dor que não se vai embora,
Sou o predador que te persegue de dia e noite,
Todos os dias e em todo o lado.
Não tenho limitações,
Tentas esconder-te de mim,
Mas não consegues,
Porque vivo dentro de ti,
Faço-te sentir que não há esperança,
E não vale a pena sequer tentar,
O meu nome é Vergonha Toxica.”

“A minha dor é insuportável e canalizo-a para os outros através da necessidade de controle,
do perfeccionismo, desdém, criticismo, inveja, critica, poder e ódio,
A minha dor é tão intensa,
Que precisas de a esconder com adicções, papeis rígidos, representações,
Ou defesas inconscientes do ego.
A minha dor é tão intensa,
Que precisas de “adormecer” e fugir a qualquer custo,
Consigo convencer-te que já parti; que não existo; experimentas a minha ausência e o vazio,
O meu nome é Vergonha Tóxica.”

“Sou o âmago da codependência,
Sou a falência espiritual,
A lógica do absurdo,
A repetição da compulsividade,
Sou o crime, a violência, o incesto e a violação,
Sou o apetite voraz que alimenta as adicções,
Sou insaciável e cheio de luxuria,
Sou a traição, sou um manipulador nato,
Modifiquei-te naquilo que és, naquilo que aparentas ser,
Aniquilo a tua alma e atravesso gerações,
O meu nome é Vergonha Tóxica”


“Esta meditação evoca a transformação da criança maravilhosa e como ela se converte numa criança magoada, abusada e inadequada. A perda da capacidade de sonhar e das suas crenças conduz à falência espiritual, não religiosa sem dogmas e divindades. A criança maravilhosa é abandonada e deixada sozinha. É uma criança invisível ao olhar dos adultos.


Como escreve Alice Miller em “For Your Own Good”, a situação da criança é ainda mais traumática que o sobrevivente de um campo de concentração. "Os condenados de um campo de concentração odeiam livremente os seus carrascos. A oportunidade de partilhar os seus sentimentos com os seus companheiros previne-os do acto de rendição. A criança não pode expressar as suas emoções, por ex. não pode e não deve odiar o seu pai. Ela não pode odiá-lo, ela receia que ele a deixe de amar como consequência dessa sua traição. Entretanto a criança, ao contrario dos condenados do campo de concentração, é confrontada pelo tormento do pai que ama. A criança continua a viver essa angústia, sofrendo de uma forma passiva e atormentada, reprimindo as emoções, projectando e expressando as suas emoções de uma forma que só ela pode e sabe.
É Recuperando esta Criança ”Interior” que se inicia a jornada de acolhimento e libertação.”~

Comentário: Na recuperação da adicção aprende-se a recuperar a Criança Interior, numa jornada espiritual, não religiosa sem dogmas e divindades

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