A recaída é um fenómeno comum à adicção, substâncias psicoactivas lícitas, incluindo o álcool e a nicotina, e as ilícitas. O mesmo fenómeno ocorre com os comportamentos, refiro-me ao o jogo, sexo, codependência, distúrbio alimentar, compras - shopaholics, shoplifting - furto. Muitas adictos/as ficam vulneráveis e expostas à recaída, em relação a determinadas atitudes, sentimentos e comportamentos, em recuperação, antes mesmo de iniciarem os consumos/comportamentos adictivos ou experimentarem a fixação/preocupação exagerada em consumir substâncias/comportamentos adictivos. Perdem a capacidade em se auto-avaliar e monitorizar (pensamentos e sentimentos) agem (comportamentos) no desejo irresistível (craving) e reiniciam os consumos de substâncias lícitas, incluindo o álcool, ilícitas, ou comportamentos adictivos (o jogo, sexo, distúrbio alimentar, compras. A estes comportamentos que despoletam e antecipam a recaída podemos designar de atitudes e comportamentos disfuncionais que boicotam a recuperação/abstinência.
Conheço adictos/as, que recaíram, quando colocados perante a questão "Se as coisas estavam a correr bem durante a recuperação/abstinência, porque é que optas-te por recair?" Resposta: "Não sei...não sei porque é que fui consumir drogas e álcool"
De forma o leitor/a conseguir discernir sobre determinados conceitos em relação à adicção vamos designar 1. adicção às substâncias psicoactivas licítas, incluindo o álcool e as ilícitas e 2. Adicção comportamentos (jogo, sexo, distúrbio alimentar, codependência/relacionamento de dependência, compras - shopaholics, shoplifting - furto). Existem adictos que são simultaneamente adictos a substâncias e a alguns comportamentos. Por ex. substâncias psicoactivas e distúrbio alimentar ou jogo e substâncias psicoactivas.
Todas as drogas que alteram o humor têm a capacidade de modificar a forma como pensamos, sentimos, agimos e como consequência podem causar danos graves no cérebro,danos psicológicos, danos físicos, e nos relacionamentos com as outras pessoas.
A adicção conduz a pessoa a consumir substâncias psicoactivas lícitas/ilícitas e/ou comportamentos a fim de obter gratificação imediata (bem estar e alivio), todavia há um custo elevado; o sofrimento, a obsessão e a compulsão a médio e longo prazo tendo como consequência, é inevitável a perda do controlo. Uma vez adicto/a muitas das consequências negativas das decisões são imprevisíveis, isto significa que se perde a capacidade de gerir comportamentos e atitudes de uma forma positiva e construtiva. Consumir substâncias psicoactivas lícitas/ilícitas e/ou agir nos comportamentos adictivos para aliviar o sofrimento/desconforto causado pelo consumo de drogas e/ou agir nos comportamentos impulsivo/compulsivo e continuado conduz ao ciclo adictivo, em "espiral".
Na adicção, o sofrimento físico e psicológico associado á interrupção do consumo de substâncias psicoactivas designa-se de Síndrome da Abstinência, vulgo Ressaca. Gostaria de acrescentar que já observei adictos a comportamentos (jogo e sexo) com os mesmos sintomas psicológicos, do Síndrome da Abstinência, que os adictos a substâncias psicoactivas
Progressão da doença da adicção:
- Fase Inicial
Aumento da tolerância e da dependência.
O desejo de consumir substâncias é substituído pela necessidade de consumir. O processo é semelhante aos indivíduos adictos aos comportamentos. Algo que começa como uma actividade inócua associada ao lazer é substituído pela necessidade de recorrer, com mais frequência, ao comportamento adictivo
- Fase Intermédia
Perda progressiva do controlo - ilusão (comportamentos e atitudes)
Interromper o consumo problemático/dependência de substâncias/comportamento adictivo gera desconforto/sofrimento e consequências sociais negativas (mentiras, negação, medos indefinidos, isolamento, desonestidade). A droga/álcool é usada para aliviar o desconforto/sofrimento da interrupção. Reinicia o processo (ciclo adictivo) seja nas substâncias e ou nos comportamentos
- Fase Cronica
Deterioração (danos) da saúde bio-psico-social.
O dia-a-dia fica mais centrado no consumo problemático/dependência das substâncias psicoactivas, como consequência o adicto perde o controlo sobre o comportamento. As actividades e/ou pessoas que interferem com o consumo problemático/dependência são negligenciadas ou abandonadas. O dia-a-dia reduz-se à fixação e à necessidade de consumir. O estilo de vida é centrada na obtenção e consumo da substância psicoactiva (gestão do stock) - isolamento, agressividade, vergonha, negação, culpa, ressentimento, sofrimento e angustia. O processo é semelhante nos indivíduos adictos aos comportamentos, a sua vida gira em torno da sua adicção, é a questão principal pela qual dedicam todos as suas competências e recursos. As actividade e ou pessoas que interferem com a adicção são negligenciadas e ou abandonadas
Negação
Negar é um sintoma e faz parte da doença, apesar de não ser um sintoma exclusivo da adicção. Na Fase Inicial o individuo nega visto não existir qualquer tipo de problemas (factos concretos) físicos, psicológicos e ou outros. Na Fase Intermédia porque os problemas não estão associados ao consumo problemático/comportamentos adictivos e, por ultimo, na Fase Crónica porque o pensamento encontra-se débil, enfraquecido assim como a capacidade de julgamento/discernimento/avaliação está distorcida. A negação é um mecanismo de defesa que afasta a motivação para recuperar (mudança) devido ao pensamento ilusório (controlo) distorcido e à lógica adictiva que se desenvolve e reforça que a realidade é uma vida com sofrimento, complicada e sem soluções - ciclo adictivo.
Ciclo da adicção:
Consumir substâncias/agir nos comportamentos - Gratificação e recompensa (prazer imediato).
Síndrome da Abstinência - Sofrimento físico e psicológico a média e a longo prazo.
Pensamento adictivo. (obsessão e compulsão e negação).
Aumento da tolerância. O individuo necessita de aumentar as doses das substâncias psicoactivas e a frequência (comportamentos) para obter o efeito desejado. Quanto maior o risco (perigo) associado ao comportamento adictivo maior a sensação de recompensa e gratificação
Perda de controlo (uso continuo apesar das consequências negativas).
Danos bio-psico-sociais (física, psicológicos e sociais ).
Alguns dos sintomas de A.L.P:
- Incapacidade de raciocinar com clareza.
- Incapacidade de concentração por mais do que alguns minutos. Enfraquecimento da capacidade de raciocino abstracto (pela abstracção forma-se o conceito retendo o essencial).
- Problemas de memória. Os problemas de memória a curto prazo são muito. Ouve uma coisa, compreende-a mas passados 20 minutos já se esqueceu.
- Reacções emocionais exageradas (impulsivas) ou entorpecimento emocional. Quando uma coisa acontece e é necessário duas unidades de reacção, o adicto/a em recuperação reage com dez. É com se carrega-se na tecla de multiplicar. Num momento tem uma reacção impulsiva, mais tarde constatar que afinal era uma questão sem grande importância.
- Perturbações do sono e insónia. No inicio da recuperação as perturbações do sono mais comuns são sonhos estranhos e perturbadores. Estes sonhos podem interferir na qualidade do sono recompensador e afectar as horas de sono necessárias.
- Problemas com a coordenação física. Tonturas, vertigens, alterações de equilibro e problemas de coordenação e reflexos.
- Sensibilidade exagerada ao stress. Incapacidade em discernir entre as situações de pouco e muito stress. O adicto podem não reconhecer baixos níveis de stress e por isso reagir de uma forma exagerada. Pode considerar o stress elevado quando antes lidava bem com essas mesmas situações, podendo reagir de uma forma despropositada e exagerada e depois surpreender-se pela forma como reage. Todos os outros sintomas acima referidos são agravados nos períodos de grande stress. Um sintoma pode agrava os outros.
“ Muitos de nós manifestamos uma predisposição mais ou menos estável para procurar ver o lado negativo dos acontecimentos ou possíveis acontecimentos. Esta vivência envolta em pessimismo traduz um mal-estar emocional e é, em grande parte suportada por uma atitude negativa. Mas como sempre que há sombra (lado negro das coisas) também há o Sol, o desenvolvimento de uma atitude positiva torna-se crucial para o bem-estar emocional e para uma boa Gestão Intrapessoal.”
Livro “Cerebrus a Gestão Intrapessoal” de Paulo Balreira Guerra.
A atitude é formada por três elementos:
Elemento Cognitivo: crenças, informações, opiniões que ao longo da nossa historia se foram desenvolvendo relativamente objecto da atitude.
Elemento Afectivo ou Emocional: emoções e sentimentos manifestados na presença do objecto da atitude ou por sua antecipação.
Elementos Comportamentais: referem-se a uma predisposição para acção.
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