Eu, sou o António e sou Alcoólico.
Estou em recuperação há
23 anos. Neste momento posso dizer que o tempo passa depressa. Quando bebia,
tudo me acontecia, havia uma poluição de vozes na minha cabeça, era infernal.
Devo grande parte da
minha recuperação à minha Mãe. Nunca deixou de acreditar em mim. Fazia parte
das Familias Anónimas e soube como lidar comigo, principalmente nas nalturas
certas.
Vou relatar 2 episódios no inicio de recuperação que me ajudaram muito a compreender o que é estar em recuperação. Aceitação da doença e como relacionar comigo próprio e com os outros de uma forma positiva e assertiva. Fiz 2 tratamentos num espaço de 1 ano. O primeiro 1999 e o segundo em 2000.
1º Episódio
Antes de 1999 fiz algumas
reuniões de Alcoolicos Anónimos (AA) por sugestão da minha Mãe.
Fui a uma reunião e uma senhora mais velha partilhou a sua dificuldade em comprar uma tv para a filha que tinha sido muito importante na sua recuperação. No final da reunião em conversa com um companheiro de sala critiquei a Sra. Disse que não fazia sentido, era uma palhaçada, e isto não é alcoolismo.O companheiro da sala disse-me:
António, esta senhora tem
vários anos de recuperação, já não tem vontade de beber, vontade essa que tú
deves ter neste momento. Tú podes ajudar e em vez disso, estás a criticar. Quando saires da reunião vais beber
certamente.
Dez minutos depois já
estava a beber e foi a 1ª bofatada de luva branca que levei dos AA. Só mais
tarde é que dei significado a este episódio. Identificação e interajuda contra
a negação e a critica.
Em 1999 Após um acidente
viação, conduzia completamente bêbado em que o carro foi para a sucata. Não
compareci no julgamento e a policia compareceu na minha morada dias depois.
Aceitei ir para
tratamento, não tinha alternativa. Mais uma vez foi a minha Mãe a funcionar nas
alturas certas e a organizar a minha vida.
Iniciei o meu primeiro
tratamento. Inicialmente não foi fácil. Aceitação do 1 Passo (Admitimos que eramos impotentes perante a nossa adicção e que tinhamos perdido o dominio da nossa vida) foi complicada, as
confrontações, só queria sair e beber. Fui
ficando, comecei a envolver-me, fiz amizades, os conselheiros sempre
impecáveis, mas não fui honesto.
Tinha terminado uma longa
relação afectiva e guardei só para mim os
sentimentos e acontecimentos que tinha passado com a minha companheira.
Quando terminei o tratamento, iniciei uma nova vida, com reuniões AA e grupos dos Narcóticos Anónimos, tinha amigos, tinha um padrinho, uma vida profissional activa e recuperar a minha companheira era para mim a cereja no topo do bolo. Correu mal.... Recai e entrei de novo num processo destrutivo.
Senti muita vergonha por
ter falhado, mentido, só queria estar de novo sozinho a beber e a ouvir
novamente as vozes poluentes na minha cabeça. Bebe! Bebe! Só mais uma........
A minha Mãe voltou a ser
fundamental para mim. Disse-me para pedir ajuda no centro tratamento.
Sugeriram-me ir a uma reunião e partilhar a recaída.
2º Episódio
Fui a reunião dos AA, só queria ser o primeiro a partilhar e sair da sala, estava farto, não me sentia bem e queria beber. No final da partilha principal, um companheiro de sala antecipou-se e iniciou a partilha. Fiquei fulo, mas ouvi a partilha. Era um sr brasileiro, que passava horas na internet, nos blogs e isto em 2000, e contou o seguinte:
Um alcoólico foi parar a
um centro tratamento e no fim do tratamento o pai dele financiou abertura de uma empresa. Ele precisava de uma
secretária e num anúncio que colocou apareceram 2 candidatas. Escolheu uma
secretária bonita sem formação e vez de uma feia com formação.
A empresa corria bem e
quando quando fez 1 ano de recuperação foi jantar com a secretária para
festejar. Correu mal, envolveu-se com ela e começou a beber, recaiu.
Pergunta do Blog
Quando é que recaiu??
Quando escolheu a
secretária bonita???
Quando fez 1 Ano de
recuperação??
Quando ouvi esta partilha
identifiquei-me tanto, fez-se luz! Quando é que eu recaí?
Quando omiti ou quando
fui beber 10 meses depois.
Percebi que recuperação
não é recuperar o que tinha perdido. Estar em recuperação é uma nova forma de
viver a vida.
Fui novamente para um
centro tratamento em que procurei lidar comigo próprio. Percebi que aceitar a
minha doença, lidar com os meus problemas, pedir ajuda e ajudar os outros foi
fundamental para entrar e manter em recuperação.
Os conselheiros que
conheci ajudaram muito e agradeço toda colaboração e experiência de vida e
paciência que tiveram comigo.
Hoje sou casado, tenho
uma filha, adoro a minha familia. todos os dias, antes de ir para casa no final
de um dia de trabalho passo por casa dos meus pais, já velhotes, para lhes dar
um beijinho e saber como estão.
Tenho um padrinho há 24
anos que sei que posso contar sempre com ele. Um bom amigo.
Não tenho um hobbie.
Gosto de cinema e ouvir música. Tenho um cão há 8 anos. Antes deste também tive
outro. Todos os sábados e Domingos acordo cedo e vou para o parque da Bela
Vista ou para Monsanto passear.
O Bugas vai solto e
sempre à frente durante 1 hora. Eu sigo-o no meio dos meus pensamentos e muitas
tomadas deciões foram aqui arquitectadas. São momentos meus. Dou muita
importâcia e raramente falto.
Sugerir um livro – “Into
the Wild”, existe também em Filme. Forte e pesado, um empurrão para tomadas de
decisões.
Todos os dias rezo a
oração da serenidade.
Obrigado João
Um abraço a todos
+24
António
Comentário: Obrigado António pela tua participação no Recuperar é que está a dar. Sucessos para a tua recuperação. Bem hajas
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