sexta-feira, junho 28, 2013
26/6 Dia para reflexão aprofundada sobre a consciência da realidade
O dia 26 de Junho assinala o Dia Internacional Contra o
Abuso de Drogas e o Trafico Ilícito. Este dia, para mim, é de reflexão, onde
dedico algum tempo à pesquisa de artigos publicados forma a manter-me
actualizado sobre a evolução deste fenómeno avassalador, para uns representou uma
verdadeira tragedia. Nomes sonantes vítimas das dependências, recordo, Micael
Jackson, Amy Winehouse e Whitney Houston, só para enumerar alguns, sem esquecer
os indivíduos desconhecidos e as suas famílias.
Em Portugal, estou em crer, que este dia, nunca mereceu a
devida atenção e até posso acrescentar que para a maioria da população
portuguesa passa despercebido, principalmente devido ao estigma, à negação e à
vergonha associados à dependência de substâncias psicoactivas, vulgo
toxicodependência. Estamos atrasados duas décadas em relação ao que se pratica,
se ensina, investiga e no tratamento das dependências a nível internacional. Trabalho
nesta área, desde 1993, e ainda constato, por parte dos profissionais de saúde,
um certo tipo de ignorância e/ou desinteresse. Por exemplo, as universidades
portuguesas ainda não possuem as condições e os recursos necessários a fim de
motivar os seus alunos para a área das dependências. Tenho outro exemplo, mais
concreto, conheci vários psicólogos e são unânimes em afirmar que aquilo que
aprendem, sobre as dependências nas universidades, é insuficiente. Já para não
referir a questão da prevenção das dependências, que tal como o tratamento do
abuso e dependência de drogas, é uma matéria que ainda não mereceu por parte
dos responsáveis políticos, dos media, dos tribunais e dos advogados, das mais
diversas Ordens de profissionais da saúde e da sociedade em geral a devida atenção.
Todos nós, eu e você, negamos as evidências óbvias.
Outro fenómeno que me desperta a atenção, neste dia, está
relacionado com a família e as drogas. Tal como já referi, ao longo destes 20
anos, continuo a ouvir imensos pais e professores assustados sobre o fenómeno
das dependências e sobre a inexistência de programas credenciados de prevenção,
sendo a causa provável dessa angústia, a falta de informação e do conhecimento
agravado pelos mitos e tabus que teimam em existir e resisitir aos tempos
modernos. Mais uma vez, não creio que a maioria das famílias e das escolas
portuguesas possuam conhecimento e recursos suficientes a fim de abordar e
educar sobre o tema da prevenção, das drogas e os jovens. Alguns pais, em
número considerável, ainda não conseguem abordar o tema das drogas lícitas e/ou
ilícitas em família, incluindo o consumo e o abuso de bebidas alcoólicas. Alguns pais, cujos filhos abusam de drogas ilícitas,
exclamam estupefactos “Como é possível que o meu filho consuma drogas? Ele teve
tudo…nunca lhe faltou nada. Como é possível uma coisa destas estar a
acontecer?” Costumo perguntar á familia, houve algum tipo de abordagem
antecipada de forma a prevenir esta situação? A resposta permanece quase sempre
a mesma. “Não. Nunca achamos, entre a família, que o meu filho opta-se por esta
coisa…”
Todavia, quero acreditar, que lentamente, devido aos avanços
das novas tecnologias e da internet, de alguns profissionais e instituições
dedicadas e que assumem o compromisso abnegado, caminharmos para um futuro mais
positivo e esperançoso nesta matéria, sempre tão actual, preocupante e sempre
em mudança. Já diz o ditado “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.”
Segundo o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU),
relativo ao ano de 2011, o consumo de drogas, concomitante, entre os
medicamentos de venda com receita (em especial as drogas sedativas e os
tranquilizantes) e as substâncias ilícitas é motivo de preocupação. Gostaria de
acrescentar que a combinação do consumo e abuso de medicamentos vendidos com
receita médica e as drogas ilícitas, podemos adicionar ao cocktail, para agravar o problema, o consumo e o abuso do álcool. É
uma mistura explosiva para a saúde.
De acordo com uma estimativa, apresentada no referido
relatório da ONU, o consumo à escala mundial, estima-se em 14 milhões de
pessoas, mais que a população portuguesa, se injectem com drogas, das quais 1,6
milhões estão infectados com o vírus do VIH (Vírus da Imunodeficiência Humana).
O paradigma do consumo e do abuso de drogas, está a sofrer
alterações no mundo e Portugal não foge à regra e às modas. Ao contrário do que
acontece com as drogas ilícitas tradicionais, refiro-me à heroína e à cocaína,
que são oriundas de países estrangeiros e sujeitas aos mais diversos entraves
quanto à sua venda ilegal (tráfico), as ditas novas drogas, estão disponíveis na Internet e em algumas lojas
especializadas, vulgo smartshops. Umas
das mudanças mais emergentes no mercado da oferta são as substâncias,
designadas de Novas Substâncias Psicotrópicas (NSP). Actualmente, no anseio de
descobrir e explorar novas sensações, alguns indivíduos, especialmente jovens
adolescentes, podem estar a comprometer, negativamente, a sua saúde, ao
consumirem estas substâncias psicotrópicas, sem que exista informação medica
suficiente caso seja necessário receberem tratamento nos serviços de saúde
(urgências dos hospitais, centros de saúde, clinicas, etc). Sabia que a lista
das novas drogas que são proibidas tem vindo a aumentar? Sabia que em 2009
foram identificadas 24? Em 2011 foram identificadas 49 e em 2012 foram identificadas
57 novas drogas. Esta é uma questão também preocupante, visto não haver
investigação científica, assim haver desconhecimento dos seus efeitos negativos
para a saúde. Por exemplo, no ano de 2012, morreram quatro jovens, na Madeira,
depois de consumirem drogas à venda nas smartshops.
De acordo com a autora do estudo Sónia Martins, psicóloga
forense, do Instituto Nacional de Medicina legal do Porto, estudou a violência
sexual entre jovens do Ensino Superior em Portugal Continental, publicado numa notícia
no Jornal de Noticias (27/6/13) refere que “Álcool e as drogas estão presentes
em cerca de 90% das violações. Os contextos de festa, por causa do abuso do
álcool e drogas, sobressaem entre as situações de risco. O uso destas
substâncias está associado a 88,1% dos casos de violação (com penetração) …”
Para concluir, todos nós, somos obrigados a reflectir
seriamente e a agir em consonância, sobre a problemática das drogas. O que é
que pretendemos? Para onde nos dirigimos? Será que o nosso conhecimento do
presente, acrescenta algo à nossa visão do futuro na prevenção das
dependências? A nossa sociedade precisa de ser mobilizada, contrariando o
estigma, a negação e a vergonha, associado às dependências. Não é fugir ou
fazer de conta de que não temos nada a ver com isso que é a atitude mais
adequada. Mais uma vez, o abuso de drogas e a dependências não acontecem só aos
outros, qualquer pessoa, dos mais variados estratos sociais, está vulnerável à
pressão social e aos estímulos das sensações, às ditas modas e mitos sobre os
efeitos negativos para a saúde. A vida e a saúde dos nossos filhos é mais
importante, do que os interesses económicos que giram à volta do trafico de
drogas, da industria do álcool e/ou para negligenciarmos o nosso papel, como
progenitores, em proporcionar-lhes as competências necessárias para enfrentarem
as adversidades do devir e que acrescentem algo valioso ao seu propósito e
sentido do rumo das vidas. Neste caso, específico, a informação, o conhecimento
e o poder dos afectos (paixão e amor) podem significar a diferença, na arte de
bem-viver.
Também gostaria de fazer alusão, muito significativa, aos
que sobreviveram à doença das dependências, e que hoje são considerados
indivíduos dignos e validos da família, da comunidade e da sociedade. Refiro-me
aos indivíduos que estão em recuperação. Estas pessoas resilientes, também
devem ter uma palavra importante, em conjunto com profissionais e instituições,
na recuperação das dependências, em vez de serem rotulados de ex-drogados,
ex-alcoolicos e estigmatizadas, de acordo com algumas pessoas retrogradas, visto
na realidade, serem uma referência inaudita, através da suas historias verídicas
e de sucesso, poderem inspirar e orientar aqueles, em especial, os mais jovens (e
as famílias) a optarem por outros rumos e sensações. Gostaria de destacar os
grupos de ajuda-muta, dos Anónimos (Alcoólicos Anónimos, desde os anos 70, e os
Narcóticos Anónimos, desde 1985), entre outros em Portugal.
Recuperar é que está a dar
Publicada por
JOÃO ALEXANDRE RODRIGUES conselheiro certificado abuso de drogas e alcool
à(s)
sexta-feira, junho 28, 2013
Etiquetas:
ciencia,
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violência
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