O Amor romântico e para onde vamos, depois de morrer, sempre
se destacaram como os grandes mistérios da humanidade. É difícil definir o
conceito do amor, apesar de ser diferente de pessoa para pessoa, mas é fácil,
para todos nós o reconhecerem. Você com certeza sabe quando é atingido pelo
amor; não é muito diferente quando é atingido pela gripe. Ao longo dos anos,
milhares de homens e mulheres, têm sido desenvolvidas várias filosofias sobre o
conceito do amor e/ou quando um individuo está sob o efeito do amor e as razões
pelas quais é necessário para a vida, todavia, as conclusões a que se chega não
acrescentam nada mais do “ Amor é a amizade em chamas”. Tais sentimentos são utilizados
para a composição de excelentes letras para musicas e/ou poesia, na realidade,
não se ajustam à perspectiva da psicoterapia. Ao longo dos séculos, e apesar de
inúmeras tentativas quanto a uma definição concreta de um conceito sobre o amor,
estas têm-se revelado infrutíferas, todavia, não há como negar; na realidade, o
amor existe e é essencial para a maioria dos seres humano, tal como respirar,
comer e/ou dormir.
Tradicionalmente, o amor é um estado de espírito associado
ao coração, inclusivamente, muitas pessoas afirmam sentir o amor no seu peito,
o que é compreensível visto o coração bater mais depressa quando estamos
completamente imersos nas fantasias do amor e/ou na descoberta/procura de um
parceiro/a romântico. Na realidade porém, o termo utilizado nestas circunstâncias
atribuído ao “coração” não é mais do que uma metáfora de algo que representa
uma parte essencial da natureza humana. O amor está dentro de nós. Nós
sentimos, gostamos e sofremos por ele e com ele. Algumas vezes, pensamos que
não conseguimos viver sem o amor. É capaz de fazer com que os adultos se
comportem como adolescentes, e aos adolescentes sentirem que agem como uns
idiotas. Perseguimos o amor, imploramos, mentimos, enganamos e roubamos por
ele. Idolatramos e somos capazes, sob o efeito do amor, compor poemas épicos. Mas
depois, no fundo, parece que pouco sabemos sobre o amor, ou não é?
O amor, o apego dependente e o cérebro
Devido a uma enorme divida para com a ciência moderna, actualmente podemos concluir de uma forma inequívoca, no sentido biológico do
termo, que o amor não reside nos nossos corações, mas nos nossos cérebros. Quando
afirmo, “cérebro”, quero dizer sangue e órgãos. Na verdade, e de certa forma
surpreendente, conseguimos localizar no cérebro, onde é que esta emoção efémera,
e ao mesmo tempo maravilhosa, está localizada. Conseguimos localizar o amor,
para medir a actividade no interior do cérebro, devido ao Functional Magnetic Resonance Imaging (fMRI), vulgo ressonância
magnética,. Quando uma parte do cérebro é ativada, seja através de um
pensamento, um movimento, uma droga, uma emoção, recorrendo ao fMRI consegue-se
observar, claramente, o local onde ocorre o enorme fluxo de sanguíneo para
determinada região do cérebro. Quando as pessoas sentem determinada emoção, O fMRI
permite aos cientistas não só localizar e identificar as zonas do cérebro ativadas,
como também permite identificar o grau de activação do cérebro, por exemplo, através
da exibição de imagens de determinada pessoa, conseguindo assim monitorizar os
níveis de intensidade do sentimento (Amor) ou a sua ausência. Hoje em dia, através
do mapeamento e da monitorização de coisas como, a excitação sexual e o amor
romântico, é um trabalho relativamente simples recorrendo à utilização da
avaliação neurobiológica.
Não é de surpreender que este tipo de “mapeamento cerebral”
tenha suscitado o interesse de uma serie de investigadores. Num estudo
publicado pelo Journal of Neurophysiology
os investigadores acompanharam a atividade cerebral de 15 pessoas (10 homens e
5 mulheres) que afirmaram estar atualmente a atravessar uma fase de “amor
intensivo” há 17 meses. Recorrendo ao fMRI os investigadores comparam a
atividade cerebral dos indivíduos, alternadas com uma tarefa de distração da
atenção (distraction-attention task),
utilizando fotografias da pessoa amada juntamente com fotografias de uma pessoa
familiar, mas não amada.
Os resultados demonstraram claramente:
- O amor romântico intenso está associado a ativação de
regiões do cérebro ricas em dopamina, tais como o corpo estriado (striatum) que inclui o nucleus accumbens , também conhecido
pelo “centro do prazer”
- O amor romântico intenso também ativa regiões do cérebro
associados com a motivação na obtenção da gratificação, principalmente a ínsula
(área adicional do córtex cerebral), que reforça a sensação de prazer e de algumas
actividades necessárias à vida. Isto é, o cérebro assegura que haja uma repetição
dos mesmos comportamentos.
Com base nos resultados obtidos, a equipa de investigadores,
concluiu que o amor romântico é uma motivação orientada por objectivos na vida,
em vez de ser uma emoção específica. Por outras palavras, os indivíduos que
estão “in love” são fortemente motivados para estar com o seu
parceiro/a amado, porque estar na presença da pessoa amada proporciona um nível
elevado de recompensa neurológica, simplificando, é muito bom.
Outro estudo, publicado no Journal of Sexual Medicine, levou esta questão do amor mais
adiante, estabelecendo uma relação entre o desejo sexual e o amor romântico.
Este estudo analisou, em separado, os resultados de 20 ensaios obtido através
do fMRI. Especificamente, cada ensaio analisou a actividade cerebral dos
sujeitos envolvidos em tarefas que consistia na visualização de fotos
pornográficas e outras fotos dos seus entes queridos. Depois de reunidos todos
os dados, os autores do estudo, conseguiram localizar exactamente, onde e como,
o desejo sexual e o amor romântico estimulam o cérebro. Constataram que tanto o
desejo sexual como o amor romântico activam o corpo estriado (striatum)e o amor romântico activa a ínsula. Assim
conseguiu-se concluir que o corpo estriado é responsável pela atracção inicial,
pelo desejo sexual e a ínsula é responsável para transformar esse desejo em
amor. Por outras palavras, o amor é gerado e “vive no interior” do corpo
estriado e na ínsula.
O amor é a cocaína das emoções
Revelou-se de grande interesse quer para os investigadores
como para os profissionais clínicos, o fato de, tanto o corpo estriado como a
ínsula são também as partes do cérebro responsáveis por desencadearem e gerarem
a dependência. Também se observou que o mesmo fenómeno da adicção das drogas é
idêntico ao processo do craving
(desejo intenso e irresistível), a antecipação (anseio) e a recompensa/gratificação
na dependência que ocorre com o amor. Como o professor Jim Pfaus, da
Universidade da Concordia, e co-autor deste estudo, que relaciona o desejo
sexual e o amor, afirma “ O amor é realmente um hábito que é formado a partir
do desejo sexual, enquanto o desejo se revelar recompensador/gratificante. Funciona
da mesma forma no cérebro como quando as pessoas se tornam adictas a drogas.”
Esta descoberta fascinante sobre o amor romântico, as substâncias psicoactivas
(a cocaína, as metanfetaminas e a heroína, etc) assim como os comportamentos
adictivos (tais como o jogo, o sexo, compras, etc) partilham a mesma motivação neuro-biológica e os mesmos sistemas de activação e ajudam a explicar os
transtornos obsessivos de certos indivíduos, susceptíveis à rejeição, ao
sentirem-se miseráveis por causa de um amor não correspondido ou pela
infelicidade no amor. Culturalmente, observamos elevados índices de homicídio,
perseguição, suicídio e depressão clinica associados ao amor não correspondido,
por exemplo, a violência domestica. De uma forma simplista, o amor romântico
pode ser como uma adicção produtiva e saudável, idêntico ao exercício físico
regular, à disciplina para uns e a uma relação apaixonada e criativa com o
trabalho, para outras pessoas. Por outro lado, o amor também pode ser uma forma
destrutiva de adicção, perda total do controlo em relação ao comportamento com
consequências prejudiciais e destrutivas, principalmente quando o amor, é
objecto de rejeição, não correspondido ou inconsistente.
Não queremos ser peremptórios, afirmando que o amor é
patológico ou que todas as pessoas que se apaixonam são adictas. Para a maioria
de nós, a paixão é algo positivo, feliz, saudável e uma dádiva da vida, para
não mencionar a necessidade de sobrevivência da nossa espécie. A propósito,
quando temos fome, sentimos um desejo intenso e irresistível para comer, e
comemos por razões muito semelhantes ao amor, porque na realidade, existe
uma necessidade do individuo para sobreviver.
Assim, nem todas as pessoas que têm
fome, têm um distúrbio alimentar, da mesma maneira que, nem todas as pessoas
que bebem álcool ou tomam drogas para fins recreativos são alcoólicos ou
adictos a drogas. A dependência ocorre quando o individuo perde repetidamente o
controlo sobre as suas decisões, sobre o seu comportamento e cujas
consequências são prejudiciais para a sua vida.
O que é que significa adicção ao amor?
Quando se fala sobre a adicção ao amor é importante
distinguir a diferença entre escolhas saudáveis e escolhas auto
destrutivas/disfuncionais adictivas. Tal como aconteceu à maioria de nós,
quanto tínhamos 25 anos ou mais cedo, descobrimos que mesmo os relacionamentos
saudáveis, numa fase inicial da limerância
(estado cognitivo e emocional involuntário, no qual uma pessoa sente um
intenso desejo romântico para com outra pessoa, é basicamente, um comportamento
que a pessoa afectada pela limerância fica carinhosa, sonhadora, receptiva à
sedução, sentindo uma necessidade romântica intensa). É o equivalente na
linguagem quotidiana ao "estar apaixonado”, quando os desejos,
pensamentos, sentimentos, escolhas da pessoa amada são a coisa mais importante
à face da Terra. Esta condição pode revelar-se confusa, obsessiva e adictiva. Assim,
a fase inicial de uma nova relação romântica, intensa e indiferenciada
(actualmente sabemos tratar-se de um processo neuro-biológico , geradora de um
êxtase emocional apaixonado, desencadeia a necessidade de estar na presença da
pessoa amada. Nos relacionamentos saudáveis, este jogo de emoções,
cuidadosamente sincronizado, contribui para o desenvolvimento lento, mas
constante do amadurecimento da intimidade, daquilo a que podemos designar a
longo prazo, de relação duradoura.
Infelizmente, para alguns indivíduos, emocionalmente menos estáveis,
que sofrem de ansiedade social, depressão, apego disfuncional, desafios
emocionais e ou trauma de infância, estão vulneráveis a ficar dependentes do
êxtase da limerância, vulgo “estar apaixonado.” Estes indivíduos podem abusar
deste tipo de estado emocional de excitação, que é inato, para escapar e/ou
automedicar para evitarem sentir a tensão dos factores stressantes do dia-a-dia
e/ou das suas emoções dolorosas. Na ânsia de conexão/ligação emocional, tal
como acontece a todos nós, alguns destes indivíduos, emocionalmente menos estáveis,
com fobia da intimidade, procuram, sucessivamente, através de vários parceiros,
perpetuar o “estar apaixonado”, acreditando que este estado emocional é
verdadeiro, todavia já sabemos ser transitório, em vez de ser interpretado como
uma etapa para o desenvolvimento de um relacionamento/apego amadurecido,
duradouro e de intimidade.
Quando uma pessoa procura, com frequência, a experiencia
neuroquímica do êxtase –“ estar apaixonado”, e ao mesmo tempo, reconhece a
necessidade de interromper este desejo intenso, agravado pelas consequências
negativas, como por exemplo; questões dolorosas na relação, problemas no
trabalho, agravamento dos sintomas de ansiedade e depressão, nesse sentido, podemos
classificar, em termos clínicos, o comportamento desta pessoa como adicção ao
amor. Para o tratamento é necessário, recorrer à tradicional psicoterapia
psicodinâmica combinado com a terapia cognitiva-comportamental destinada a
ajudar a pessoa a reconhecer os sintomas que reforçam o querer manter-se na
relação, correr atrás da relação, a fugir da relação e a obsessão pela relação.
Referências bibliográficas:
A. Aron, H. Fisher, D. Mashek, G. Strong, H. Li, and L.
Brown, “Reward, Motivation and Emotion Systems Associated with Early-Stage
Intense Romantic Love,” Journal of Neurophysiology (2005) 93 : 327-337.
J.G. Pfaus, T.E. Kippin, G.A. Coria-Avila, H. Gelez, V.M.
Afonso, N. Ismail, and M. Parada, “Who, What, Where, When (and Maybe Even Why)?
How the Experience of Sexual Reward Connects Sexual Desire, Preference, and Performance,”
Arch Sex Behav (2012) 41(1) : 31-62.
Science Daily, I Want to Know Where Love Is: First Brain Map
of Love and Desire,
http://www.sciencedaily.com/releases/2012/06/120620101011.htm (Jun 20, 2012).
H. Fisher, L.L. Brown, A. Aron, G. Strong, and D. Mashek,
“Reward, Addiction and Emotional Regulation Systems Associated with Rejection
in Love,” Journal of Neurophysiology (2010) 104 : 51-60.
Comentário: Ao
longo da minha experiência no acompanhamento com pessoas com dependência
emocional, vulgo codependência, constato que essas mesmas pessoas apresentam
uma determinada vulnerabilidade:
- À expressão dos afectos e ao desapego emocional,
- À pressão social; filmes, musicas, tradições familiares, círculo
de amigos,
- Aos relacionamentos íntimos de compromisso e definição de
limites,
- Na gestão construtiva dos sentimentos dolorosos. O
dependente emocional, vulgo codependente, evoca o perdão e o amor, quando na
realidade nega a dor e o sentimento de raiva/frustração. São indivíduos com
elevada tolerância à dor, para além dos limites saudáveis e construtivos, em
prol da relação que tanto anseiam.
- Resolução de conflitos e tomar decisões em situações tensas.
Receiam a assertividade e adoptam jogos psicológicos (exemplo controlar, poder).
O dependente emocional é o zelador/a em honrar o compromisso e a salvar a
relação a qualquer custo. Alguns afirmam “Em nome do amor…” quando na
realidade. Não existe amor genuíno e/ou confiança.
- Alguns sintomas da dependência emocional aparentam surgir
após o fim do período inicial da paixão, “lua-de-mel”, isto é, quando surgem os
conflitos, as discórdias e as diferenças de crenças, experiencias, tradições,
rotinas e características da personalidade.
Graças aos avanços da investigação, na era moderna, podemos
concluir, ao contrário daquilo que muitos afirmam e estar desactualizado ou
servir outros fins que nada têm a ver com o amor;
O amor romântico duradouro não é um sentimento.
Perante a iminência do fim do amor, o individuo adicto ao
amor, pode desenvolver uma dependência emocional. Investigadores descobrem que
sentimento de fim de relação está associado a ansiedade e depressão.
Quando não existe amor, genuíno e honesto, na relação o mais
apropriado é terminar a relação porque prolongar o sofrimento poderá
desencadear violência verbal e/ou física, vulgo violência domestica.
Investigadores da Rutgers University, New Jersey (EUA),
descobriram que as áreas do cérebro que são accionadas quando uma pessoa é
abandonada pelo parceiro são as mesmas que estão associadas às dependências, à
depressão e à ansiedade.O estudo demonstrou que, após dois meses do fim da relação,
os sentimentos que essas pessoas nutriam pelo parceiro ainda estavam intactos.Helen E. Fisher, coordenadora deste estudo e reconhecida
antropóloga e investigadora na área dos relacionamentos, afirma que a rejeição
cria uma espécie de dependência, que apesar de causar dor, é superável. Pôr fim
à tristeza e aos pensamentos negativos não é mais do que um processo de
aprendizagem.
Curiosidade: Para evitar que situações de dependência no
seguimento do fim de relacionamentos afectem a produtividade dos seus
empregados, o grupo Richemont, proprietário, entre outras marcas, dos relógios
e joalharia Cartier, das canetas Montblanc e dos produtos Gucci, proibiu os
relacionamentos amorosos entre os trabalhadores, sobretudo se ambos trabalharem
lado a lado. Se não houver respeito pelo código de comportamento, os
prevaricadores podem ser punidos com o despedimento ou poderão mesmo ter de
mudar de local de trabalho.
“Ora, dado que se estima que mais de 80% das canções
escritas versam o tema universal do amor (…)” Jornal Publico
Algumas citações sobre o amor
- "Um homem sensato pode apaixonar-se como um doido, mas
não como um tolo." François Rochefoucauld
- "Passamos metade da vida à espera daqueles que amamos e
a outra metade a deixar os que amamos." Victor Hugo
- "O mal nunca está no amor." André Gide
- "A experiência localiza-se nos dedos e na cabeça. O
coração não tem experiência." Henry
Thoreau
- "O amor triunfa sobre tudo, cedamos também nós ao
amor." Virgílio
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