terça-feira, janeiro 24, 2012
Detalhes da vida de pessoas com distúrbio alimentar.
Filipa (nome fictício) “Nos dias cinzentos sabe bem o
aconchego de um doce. Tive que sair para comprar fruta. Fui ao supermercado e passei
nos doces, bolachas, chocolates e comprei. Cheguei a casa e comi. A partir daí
pouco mais fiz senão comer. Entrei numa roda em que o que vem à rede é peixe.
Comi queijo, com queijo, pinhões, e bolachas. E agora estou mal disposta e zangada”
Raquel (nome fictício) “Desde as minhas primeiras memórias
que me lembro da comida. Algo se passou comigo em tudo o que se relaciona com a
comida. Desde os 6 anos que me recordo de sentimentos de vergonha do meu corpo
porque me sentia uma menina gordinha. Desde essa altura que associo o comer a
engordar.”
Carla (nome fictício) “Quando era
criança e recebia a mesada, ia sempre à pastelaria, comprar bolos, e comia às
escondidas. Era um segredo que guardava só para mim. Esse segredo mantém-se nos
dias de hoje em relação ao meu distúrbio alimentar”
Maria (nome fictício) “A balança e o peso é um drama diário, quando peso
mais dois ou três quilos tenho sentimentos de culpa e arrependo-me de tudo o
que tenho comido. É uma desilusão enorme. Não gosto do meu corpo.”
Sandra (nome fictício) “Mais uma tentativa milagrosa e sem sucesso para
emagrecer. Decidi colocar um balão intra-gástrico. Durante uns meses tive uma
dieta restritiva. De inicio só podia beber líquidos. Os primeiros dias foram
cheios de dores, mas perdi dez quilos e cheguei aos 80 quilos. Ao fim de seis
meses retirou-se o balão, e consegui manter um peso aceitável, mas facilmente
aumentei quatro quilos. Voltei mais uma vez à estaca zero, pior ainda, à
desilusão. Detesto-me. Perdi o controlo, se é que alguma vez o tive, em relação
ao distúrbio alimentar. ”
Sofia (nome fictício) “Decidi tomar medicamentos para emagrecer de
venda nas farmácias. Tal como as dietas alimentares restritivas, perdi peso.
Mas quando reparei, na balança e constatei que não tinha perdido o peso que
queria, desisti rapidamente. De seguida, continuei à procura de outra dieta
fácil e “milagrosa. Nestas alturas, dizia para mim: A próxima dieta é que vai
resultar.”
Rita (nome fictício) “Durante uns meses bebia infusões à base de
plantas com efeitos diuréticos e laxantes. Andava a beber o referido líquido
durante todo o dia. Ouvia imensos comentários das pessoas do tipo: O que andas
a fazer com a garrafa atrás de ti? ou Para que é que isso serve? ou Então? È
para emagrecer? Perante as comentários dos outros sentia que tinha de me
justificar…com mentiras. O resultado, no final, destas infusões foi nulo. Iludida,
continuo à procura da dieta milagrosa para perder peso o mais rapidamente
possível”
Ana (nome fictício) “Um dia, enquanto folheava uma revista, encontrei
um anúncio sobre uns comprimidos para emagrecer. A primeira reacção foi: Vou
comprar estes comprimidos para emagrecer. Vou encomenda-los e ninguém tem nada
que saber. Andei a tomar estes e outros comprimidos semelhantes durante um ano
negligenciando os possíveis riscos para a saúde. Até que descobri que não
resultava. Andei a gastar dinheiro para nada.”
Paula (nome fictício) “Frequento o ginásio para emagrecer. Quando penso
que posso ficar gorda sinto imensa ansiedade e pânico. Nem sequer suporto a
ideia de algum dia isso vir a acontecer, e obviamente que este medo se reflecte
nas refeições diárias. Não como nada jeito às refeições, limito-me a ingerir
líquidos. Quero perder peso, o mais possível, porque sinto que estou gorda. Quero
emagrecer, para isso, tenho que treinar, todos os dias, no duro e com
intensidade. Sou compulsiva e não consigo concentrar-me noutro tipo de
actividade. O exercício físico é o mais importante e tem precedência sobre os
relacionamentos e outro tipo de actividades. O meu objectivo é aumentar a
quantidade de exercício e quando estou ausente do ginásio, durante mais do que
um dia, sinto-me inquieta, ansiosa e muito irritada com tudo e com todos.”
Luís (nome fictício) “Recorro com alguma frequência aos comportamentos
purgativos. O mais comum é o vómito. Após episódios de ingestão compulsiva fico
tão desesperado, enjoado e sinto me tão culpado por comer, que acabo quase
sempre na sanita da casa de banho para vomitar, para me sentir aliviado. Quando
tomo consciência dos meus actos sinto pânico de estar a perder o controlo da
minha vida. ”
Dicas:
Evite o consolo na alimentação hipercalorica e/ou
no oposto através da restrição alimentar. Procure alternativas mais
recompensadoras (médio e/ou longo prazo) e geradoras de auto estima para se
mimar. Procure pessoas para se divertir, explore a intimidade nos
relacionamentos, invista em hobbies,
expresse as suas emoções dolorosas com pessoas significativas.
Quando o medo é
desmedido a mente racional começa a falhar. Ficamos tão assustados e as
"feridas" são tão dolorosas que o melhor é quebrar o contacto com o
mundo exterior. Todavia, a verdade é dolorosa porque abre a porta das
"feridas" que estão encobertas por mentiras. A estas mentiras podemos
designar como um sistema de negação (auto engano).
É
maravilhoso ser sexy e bonito/a. Mas como se sente debaixo da sua própria pele?
Considera que os padrões/critério que utiliza para o exterior (aparência) é o
mesmo que utiliza para o interior (sentimentos), formando assim um TODO íntegro
e honesto?
Sabia que por vezes comemos
de forma a satisfazer as nossas necessidades emocionais? Uma grande parte de
nós aprendeu a socializar-se, com comida, para nos sentirmos bem. Recebemos
comida por imensas razões, por ex. exprimir amor ou reconhecimento,
hospitalidade e ajuda-nos a lidar com a desilusão e experiências negativas (Craighead, 2006).
O nosso organismo não está
preparado para processar aquilo que comemos e como comemos, como queremos. Está
"formatado" para armazenar, sempre que comermos algo que não
consigamos processar (metabolismo).
Sabia que existem
determinados alimentos, por ex. o açúcar, que despoleta a compulsão alimentar? A
ingestão compulsiva destes alimentos está relacionada com emoções dolorosas -
raiva, aborrecimento, medo, tristeza, ansiedade.
Sabia que a anorexia e a bulimia
são doenças do comportamento alimentar cujas consequências físicas são
devastadoras? Inclui anemia, infertilidade, problemas intestinais e perda de
cálcio e 90% dos indivíduos estão vulneráveis à depressão. As boas notícias é
que se forem diagnosticadas, logo após o surgimento dos sintomas, os problemas
podem ser reversíveis.
Hoje em dia a
anorexia, a ingestão compulsiva (binge
eating) e a bulímia são um fenómeno transversal na nossa sociedade. Existem
em diferentes culturas, raças, etnias, classes sociais e religião.
Caso
identifique um distúrbio alimentar peça ajuda porque o problema pode tomar
conta de si e assumir proporções devastadoras e dramáticas.
Recuperar É Que Está A Dar
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