segunda-feira, abril 20, 2009
Não, a mais odiada vs. abençoada palavra nos encontros interpessoais
Não - é a palavra que mais detestamos ouvir quando somos contrariados e assim impedidos de satisfazer a nossa vontade. Desde a tenra idade até à idade adulta odiamos ouvir o Não. Recorremos à manipulação, à desonestidade, à mentira, à culpa e até em situações extremas à violência verbal (intimidação) e/ou física de forma a evitar ouvir o Não da outra pessoa. Na maioria das vezes, é preciso “pressionar” os nossos neurónios para aceitar o Não e continuar com a vida em frente.
Como é que nos sentimos quando estamos a comunicar e precisamos de dizer Não, de forma a satisfazer as nossas necessidades, mas infelizmente, acabamos por dizer; Sim, só para agradar?
Todos nós, sem excepção, no dia-a-dia somos confrontados com situações onde é extremamente difícil dizer Não à outra pessoa ou a um grupo de pessoas. Por ex. combinar um jantar com uns amigos num dia, umas horas depois, você é convidado para jantar em casa dos pais. O patrão pede para ficar umas horas extra no trabalho, quando nesse dia, você tem outros planos para essa noite. Um professor solícito pede apoio, para um trabalho extra de investigação, e você está sem tempo disponível. Você comprou uma camisola e de repente surge uma amiga e diz “Epá, a tua camisola é muito gira! Podias emprestar. Vá lá!” ou alguém que “implora” que o acompanhe a qualquer sítio, e você não está na disposição para tal.
Se você frequentemente se sente pressionado e desconfortável, e em vez de ser assertivo, é agradador e passivo, acabando por sentir-se infeliz e inseguro, então chegou a altura da sua vida para se questionar e procurar as razões e as crenças (expectativas disfuncionais) pela qual diz Sim - sempre com um sorriso amarelo ou o oposto, com um ar de miserável (pena de si mesmo) - quando na realidade quer dizer Não.
Pode recear perder alguém se disser Não, por ex. o namorado/a ou o amor do marido/mulher, sentir que pode afectar a relação negativamente gerando uma discussão enorme entre si e o seu parceiro/a. Pode perder um amigo ou uma amiga. Pode até pensar que as outras pessoas não vão gostar mais de si, se disser – Não - e sentir-se rejeitado. Fugindo ao Não acaba por assumir uma postura de zelador (pacificador, agradador a qualquer custo) e complacente (adapta-se e molda-se aquilo que pensa/calcula que os outros pensam de si) mantendo a relação frágil e dependente. Evita, a qualquer “preço”, que a relação se submeta às adversidades normais, oriundas das diferenças de opinião entre parceiros ou amigos, histórias e perfis diferentes, etc.
Com o tempo, você acaba frustrado e desiludido, porque na realidade não existem pessoas e relações perfeitas. Afinal, somos humanos e a vida é uma aprendizagem constante. No nosso quotidiano, acontece com mais frequência do que nós imaginamos, ficarmos desiludidos com as outras pessoas, mas nós também desiludimos os outros.
Você tal como imensas pessoas, podem sentir culpadas quando dizem Não, por terem aprendido a evitar seguir o seu próprio caminho na vida, evitando assim magoar as emoções dos outros, você sentir que é um fardo pesado. Nesse sentido, estão criadas as condições para acabar por se sentir responsável pelas emoções das outras pessoas, como se a felicidade delas depende-se da sua necessidade de agradar.
Esta atitude facilitadora e permissiva pode impedir que as outras pessoas assumam a responsabilidade pelos seus próprios sentimentos. Aprendeu a virtude do “auto sacrifício” e/ou a negar as suas próprias necessidades e emoções. Acaba por ser responsável e estar mais atento (preocupado) às necessidades dos outros, delegando as suas para segundo plano. Pode acabar por se sentir uma pessoa má (egoísta e/ou egocêntrica) se recusar compactuar com este jogo psicológico. Pode também sentir-se lisonjeada evocando o princípio da abnegação, sentindo-se importante perante os outros, mas na realidade, acaba por ser “apanhada” no medo paralisante em afirmar Não. Imediatamente, você julga que nunca mais será solicitado para qualquer outro assunto importante. Abdica dos seus valores e submete-se ao Sim, em vez de dizer Não. Estes são apenas alguns exemplos onde pode ficar “apanhada” e interferir negativamente na sua liberdade de escolha.
Quais os mecanismos mais acessíveis e seguras de dizer Não? Em parte, é necessário um trabalho cognitivo. O primeiro passo é identificar as crenças e as “armadilhas emocionais” que interferem com o ser assertivo/a.
Por ex. se um amigo lhe pede o seu CD favorito para levar para uma festa, quais as consequências que pode antecipar se disser “Olha, desculpa lá, mas Não levas esse CD”? Sente medo de ele ou ela nunca mais fale consigo? Se você disser Não ao seu patrão; sente medo de ser despedido do trabalho? Se disser Não a um professor; antecipa o medo de não ter boas notas no seu curso?
Uma vez, identificada as expectativas catastróficas, o segundo passo é reavaliar e definir novas expectativas; realistas e positivas. Por ex. dizer a si mesmo o seguinte - "Ao dizer Não ao meu amigo, ele irá ficar desiludido por não lhe ter emprestado o CD, mas obviamente, a nossa amizade não dependente de lhe emprestar ou recusar o CD. Até é bem provável que ele me respeite mais por ter dito Não de uma forma espontânea e assertiva" ou
"O patrão pode não gostar da minha recusa ao seu pedido, mas seria inconveniente para mim aceitar o seu pedido. Se concordar em fazer alguma coisa que realmente não quero fazer, depois vou sentir-me desconfortável e frustrado comigo próprio. Sinto raiva e fico ressentido com a outra pessoa. Anular-me e ser passivo pode encorajar os outros a fazerem exigências irracionais sobre mim."
Após reforçar as suas crenças pessoais de uma forma mais racional, vai estar preparado para dizer Não e sentir-se confortável sobre essa atitude assertiva. No terceiro passo, diga Não, com um tom de voz e índole assertivo, directamente à pessoa em questão. Certifique-se de que a linguagem não verbal corresponde às suas palavras: Por ex: Faz contacto visual com a outra pessoa?
O seu tom de voz é passivo e faz um rol de desculpas e justificações desnecessárias antecipadas e fora do contexto?
Ao ter aprendido, desde muito cedo na sua vida a ser submisso ou complacente, dizer Não é um processo que ao inicio encontra algumas dificuldades e “rasteiras” cognitivas. Para soar mais fácil, “baixe a fasquia” e comece por dizer Não em situações sociais que apresentem menos risco, isto é, situações em que sente mais confortável e onde o seu direito ao Não é demasiado óbvio. Através desta rotina vai começar a construir alguma confiança sólida nas suas competências, em afirmar Não, e assim, conseguir lançar-se para desafios e situações mais exigentes e sérias, embora ainda se sinta ainda inseguro ao nível das suas emoções.
È mais fácil dizer Não a um certo tipo de pessoas do que a outras. Para si, pode significar amigos próximos ou pessoas desconhecidas e/ou família. Visualize, antecipe a situação e pratique a forma como irá dizer Não. Pratique, afirmando o Não de uma forma directa, clara, sem justificações.
Diga em voz alta – Não e Não. Não precisa de acrescentar mais palavras (justificações ou racionalizações). O Não é suficiente. Enquanto faz este “exercício” permaneça atento ao seu tom de voz, à sua linguagem corporal e à sua atitude.
Por outro lado, quando estiver em contextos onde não se sente tão confortável quanto a dizer Não ou não estar seguro quanto aquilo que gostaria de dizer não hesite em solicitar algum tempo extra, para reflectir sobre o assunto, por ex. pode dizer à outra pessoa “Desculpa, mas prefiro pensar melhor sobre o assunto, depois falamos melhor.”
Como naquele momento não está seguro quanto a dizer Não, tente identificar quais os seus sentimentos; as suas crenças irracionais e as suas expectativas.
Pode acontecer, e acontece com frequência, alguém não aceitar o seu Não. Essa pessoa teima, como um “disco riscado”, não ligando importância em relação aquilo que você diz. Na perspectiva do outro, aquilo que você diz não tem importância suficiente. Nesta altura, é necessário você pensar: "Sou daquelas pessoas que desiste daquilo que quer, somente para fazer a vontade às outras pessoas?" Isto é, vai ceder e retroceder quanto ao seu Não e continuar a sentir-se ignorado? Apesar de querer dizer Não; vai dizer sim? E como se sente por fazer as vontades dos outros e anular as suas necessidades?
Se a pessoa persistir, obstinada sem desejar valorizar a sua posição – Não – será que você fica com raiva? Sabia que é ok sentir e expressar raiva de uma forma construtiva? Pode chamar à atenção dessa pessoa, por ex. através do toque físico no braço e dizer “Pareces estar seriamente a fazer com que concorde contigo, mas eu disse Não e isso é realmente que desejo manter. Não vou voltar atrás.” Diga Não, se questionado com “Ouve lá e porquê?" Responda “Porquê? Porque Não.” Não se justifique, o Não é suficiente.
Apesar das mensagens que aprendemos ao longo da nossa vida, especialmente nos primeiros anos e depois na adolescência, sobre como lidar com a pressão social, com pessoas autoritárias e manipuladoras, assim como levar a nossa atitude a avante, é importante identificar que existe um tipo saudável de egoísmo, refiro me ao auto-conceito, em que é primordial colocarmo-nos em primeiro lugar. Se nós não gostarmos de nós mesmos, iremos sentir frustrados nas relações com as outras pessoas. Os outros não vão preencher as necessidades que não conseguirmos realizar e satisfazer.
È nosso direito dizer Não quando desejarmos e sentirmo-nos confortável com isso. Quanto mais atento estiver às suas necessidades e às suas emoções mais competências vai conseguir adquirir que lhe permitem dizer Sim, quando desejar, e dizer Não quando for essa a sua vontade.
Liberdade de escolha nos encontros interpessoais.
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